Brasileiro compõe peça para "piano robô"



Com obras interpretadas por músicos e conjuntos internacionais desde 2003 – grupos de câmara da Europa, Ásia e Américas - o pianista e compositor carioca Luiz Castelões, radicado em Juiz de Fora, se lança em outras fronteiras, mais especificamente as tecnológicas. 

Doutor em música pela Universidade de Boston e, desde 2009, professor de composição na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o músico estreia, em uma nova colaboração com o produtor juizforano Nando Costa, “Black MIDI” (Midi Negro), uma suíte em quatro movimentos para disklavier, uma espécie de “piano robô” da Yamaha, que vem sendo desenvolvido há 40 anos. No Brasil, além de pouco conhecido, o instrumento carece de repertório mais significativo – há apenas algumas experimentações, porém, sem registro de obras completas escritas para ele.

O vídeo registrando o “piano robô” executando a obra acaba de ser lançado no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=EjA-I4sRyMU) e desperta perplexidade pela desenvoltura, exatidão precisão na interpretação da máquina. A música tem uma longa história de máquinas que tocam sozinhas – por exemplo, o Museu de Utrecht (Holanda) tem uma vasta coleção de caixinhas de música e dispositivos automáticos de séculos atrás – e, no caso do piano, é natural a associação com a pianola, uma espécie de “avô do disklavier que tocava sozinha, lendo rolos perfurados, mas sem as potencialidades da era digital.

A obra de Luiz Castelões é parte de uma série de outras do compositor feitas para serem tocadas por máquinas e sucede ao lançamento de seus “2 Realejos Digitais” para sintetizador solo, estreada em novembro de 2022 pelo pernambucano Henrique Vaz e também disponível no YouTube.  “A utilização de máquinas ou robôs para executar música não tem por objetivo substituir o ser humano”, afirma Castelões, “mas apenas possibilitar que a imaginação musical possa ultrapassar as limitações do corpo humano e, assim, criar música que seria impossível de ser tocada por seres humanos”.

Assim, a obra inclui velocidades e texturas humanamente impossíveis em sua partitura, mas, sem perder o lirismo. “Estaríamos perante um robô já humanizado, sentimental, musical? A conferir!”, comenta.

A música de Luiz Castelões começou a ser executada por artistas estrangeiros, primeiramente, na América Latina, chegando aos Estados Unidos em 2005 e, em seguida, na Europa, em 2013. Já foi estreada e gravada por grupos internacionais como o East Chamber Music (Canadá, 2022), Roadrunner Trio (Holanda, 2020), o Ensemble Linea (França, 2019), o Aleph Gitarrenquartett (Espanha, 2019), o Ecce Ensemble (França, 2018), o Ensemble Mise-En (Coreia, 2018 e 2017), o Quartetto Maurice (Itália, 2016 e 2014) e o Mivos Quartet (Espanha, 2015).

Com influências da música popular brasileira, da música de câmara contemporânea e do universo pop, sua obra recebeu prêmios como os do Ibermúsicas (2015), Escola de Música da UFRJ (menção honrosa, 2012), Festival Primeiro Plano (Melhor Som, 2003) e Funarte (Prêmio da XIV bienal de música brasileira contemporânea, 2001).

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