Quadrinhos descobrem o universo caipira

Yuri Garfunkel: modas de viola inspiram história em quadrinhos

O universo das histórias em quadrinho está povoado de personagens que voam, têm poderes sobre-humanos e transitam entre mundos mágicos - os super-heróis, como foram chamados, são hoje quase sinônimo das HQs, tal a quantidade desses seres que saiu da imaginação de roteiristas e desenhistas. 

São poucos os criadores que ousam desafiar ou ir além desse senso comum. E quando surgem, merecem toda a atenção e incentivo, como é o caso do desenhista, músico e educador Yuri Garfunkel, autor de “A Viola Encarnada: Moda de Viola em Quadrinhos", projeto contemplado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC), do Estado de São Paulo, uma HQ baseada em temas sugeridos em mais de 80 canções do riquíssimo repertório caipira.

A obra, que será lançada no dia 9 de novembro na Livraria do Espaço (Rua Augusta, 1475, São Paulo ), tem texto introdutório de Ivan Vilela, violeiro, compositor, arranjador e pesquisador da música caipira, que não poupa elogios ao trabalho de Garfunkel: “Yuri teve a genial ideia de trazer este universo histórico da formação cultural do nosso povo para os quadrinhos. Ele traduziu em belas imagens tais narrativas reproduzindo cenas icônicas de modas e momentos. Além disso, a linguagem dos quadrinhos atinge um público diverso, inclusive mais jovem, e que desconhece essa história e essa música”, diz.

Dividida em dez capítulos, conforme as dez cordas da viola caipira, "A Viola Encarnada: Moda de Viola em Quadrinhos” retrata as aventuras dos amigos Vaqueiro e Violeiro em diversas situações recorrentes do cancioneiro caipira em viagens pelo interior do país. “A narrativa aborda a função social da viola desde suas origens rurais, o trabalho no campo e com o gado, as pescarias, o próprio ofício do violeiro que toca nas festas e nas fazendas. O ponto de partida da trama é o assassinato do Chico Mineiro. A partir daí busquei outras modas que esclarecesse esse mistério”, explica Yuri Garfunkel.

Garfunkel teve seu primeiro contato com a música caipira quando era criança, por causa das canções que suas avós cantavam. Com o passar dos anos, seu interesse pelo gênero aumentou e há cinco anos começou a tocar viola. “Desde então, o roteiro da HQ foi se formando na minha cabeça a partir do repertório que conheci ao longo da vida”, afirma.
Para ele, a música caipira destaca-se por sua sonoridade única. “Ela engloba uma grande variedade de ritmos e a qualidade das composições é impressionante”, diz. 

Garfunkel já possuía o conhecimento do repertório caipira como músico, flautista e violeiro. Para contextualizar o enredo, convidou Ivan Vilela para compartilhar seu conhecimento histórico na introdução do livro. 


Com 172 páginas, a obra conduz o leitor para uma viagem sonora afinada com as características históricas e visuais da flora e da fauna dos Estados brasileiros, fundamentais na formação da cultura caipira, numa jornada que percorre os sertões até chegar na cidade grande. Um dos diferenciais da produção é que os acontecimentos e paisagens descritos nas letras propõem ao leitor um encontro com a imaginação já que estão interligados visualmente, ou seja, sem textos ou balões de fala. Dessa forma, o leitor pode induzir o conteúdo do texto sugerido pelos títulos das canções de referência que são indicadas no rodapé das páginas e dispostas para conferência em uma playlist digital no Canal A Viola Encarnada no Youtube.

Yuri Carlos Garfunkel é desenhista, músico e educador desde 2004, criador do Sopa Art Br, estúdio de artes visuais, ilustração e design, com mais de dez anos de experiência em comunicação visual ligada à cultura. 

Ivan Vilela é violeiro, compositor, arranjador, e pesquisador da música caipira. É professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e também diretor da Orquestra Filarmônica de Violas. 

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