Teatro Municipal de SP volta a encenar ópera de Debussy


O Teatro Municipal de São Paulo, instituição da Secretaria Municipal de Cultura, retorna com sua a temporada lírica, trazendo Pelléas et Mélisande, obra de Claude Debussy, em 12 de outubro, às 20 horas, com direção novamente de Iacov Hillel. A ópera é uma remontagem da produção de 2012 e marca o centenário de morte do compositor francês. O maestro Alessandro Sangiorgi rege a Orquestra Sinfônica Municipal, com a participação do Coral Lírico, em apresentações que seguem até 21 de outubro. Nesta última data, a produção conta com audiodescrição.

“Nossa intenção ao trazer este título remontado de 2012 é dar ao público a oportunidade de relembrar esta obra inovadora de Debussy e também dar sequência a uma temporada lírica diversa no Teatro Municipal de São Paulo”, afirma o Secretário de Cultura, André Sturm.

A trama de Pelléas et Mélisande trata de amor, ciúme e remorso a partir de um triângulo amoroso. A história se divide em cinco atos. Golaud se perde numa floresta durante uma caçada e encontra Mélisande, que também está perdida. Ambos se casam. Golaud tem um meio-irmão, Pelléas, a quem assassina ao desconfiar que há entre ele e Mélisande sentimentos pouco fraternais.

O papel de Golaud será interpretado pelo baixo-barítono americano Stephen Bronk. Quem interpretará Mélisande será novamente a soprano Rosana Lamosa, que foi protagonista desta ópera em 2012. No papel de Pelléas, estará o barítono chinês Yunpeng Wang. Também serão solistas Mauro Chantal, como Rei Arkel, avô de Golaud, e a mezzo-soprano Lidia Schäffer, como Geneviève, mãe de Golaud.

O cenário foi concebido por um dos grandes cenógrafos brasileiros, Hélio Eichbauer, que morreu em julho deste ano, deixando um legado de trabalhos renomados no teatro, no cinema e na música.  O figurino foi assinado por Marisa Rebollo e tem referências dos trajes na época medieval, inspirados no movimento pré-rafaelita do século 19.

A produção é minimalista. Por exemplo, a sala do palácio é representada apenas pelo trono.  Entre os recursos utilizados para a composição cenográfica, está a projeção de alguns detalhes de telas do pintor impressionista francês Claude Monet. Outro elemento essencial é o palco giratório, que foi construído especialmente para a montagem de 2012.  O recurso permite a sensação de passagem de tempo, com os locais das ações se sucedendo, e foi utilizado pela última vez este ano na ópera O Cavaleiro da Rosa, de Richard Strauss, com direção de Pablo Maritano e regência de Roberto Minczuk.

A ópera estreou em Paris em 1902. Claude Debussy levou cerca de dez anos para compor a obra, única do gênero escrita por ele.  A história se baseia na peça homônima de Maurice Maeterlinck e foi apresentada pela primeira vez em 1893.

“É uma peça simbolista no sentido de que os personagens não se resumem ao que você está vendo, mas são carregados de simbolismo. O Rei Arkel representa o tempo, Geneviève, além de mãe, simboliza a terra fértil. É uma produção misteriosa, ameaçadora. No primeiro ato, a gente não sabe de onde veio Mélisande, que chora ao lado de uma fonte, você se questiona se é uma ninfa, uma princesa que perdeu uma coroa?”, afirma o diretor Iacov Hillel.

A ópera marca o retorno do maestro convidado Alessandro Sangiorgi ao palco do Teatro Municipal. O regente foi assistente e maestro residente da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo até 1993.  “Recebi com imensa alegria o convite do maestro Roberto Minczuk para reger Pelléas et Mélisande e o reencontro com a inesquecível Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. A música de Debussy enfatiza dois aspectos: acordes sombrios nos acompanham nos bosques onde Golaud caça e na escuridão do castelo onde nunca se vê o céu. Em contraste, cores brilhantes e iridescentes nos acolhem no florescer da amizade e no amor entre os jovens [Pelléas e Mélisande]”, afirma Sangiorgi.

A encenação conta também com um solo infantil no terceiro ato. Para interpretar Yniold, filho de Golaud, duas crianças foram escolhidas. Benjamin Garcia, de 11 anos, é aluno regular da Escola de Música do Theatro Municipal de São Paulo, e Miguel Azevedo Marques, de 12 anos, participa desde 2016 do Coro Infantil da Osesp, sob regência de Teruo Yoshida.

Os ingressos variam de R$ 20 a R$ 120. A récita da estreia é patrocinada pelo Banco Santander. Já a de domingo (14), tem o patrocínio do Bradesco. 

Encerrando a temporada de óperas, o Teatro Municipal encenará, entre 16 e 25 de novembro, Turandot, de Giacomo Puccini. A obra será dirigida por André Heller-Lopes e contará com a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, Coro Lírico e Coral Paulistano, com os maestros Roberto Minczuk, Mário Zaccaro e a maestrina Naomi Munakata, respectivamente, na regência.

Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo

No começo do século 20, as companhias líricas internacionais que se apresentavam no Teatro Municipal traziam da Europa seus instrumentistas e coros completos, pela falta de um grupo orquestral em São Paulo especializado em ópera. A partir da década de 1920, uma orquestra profissional foi criada e passou a realizar apresentações esporádicas, tornando-se regular em 1939, sob o nome de Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal. Uma década mais tarde, o conjunto passou a se chamar Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e foi oficializado em lei de 28 de dezembro de 1949, que vigora ainda hoje. 

A história da Sinfônica Municipal se confunde com a da música orquestral em São Paulo, com participações memoráveis em eventos como a primeira Temporada Lírica Autônoma de São Paulo, com a soprano Bidú Sayão; a inauguração do Estádio do Pacaembu, em 1940; a reabertura do Theatro Municipal, em 1955, com a estreia da ópera Pedro Malazarte, regida pelo compositor Camargo Guarnieri; e a apresentação nos Jogos Pan-Americanos de 1963, em São Paulo.

Estiveram à frente da orquestra os maestros Arturo de Angelis, Zacharias Autuori, Edoardo Guarnieri, Lion Kasniefski, Souza Lima, Eleazar de Carvalho e Armando Belardi. Roberto Minczuk é o atual regente titular da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.

Teatro Municipal de São Paulo

O Teatro Municipal de São Paulo faz parte da Secretaria Municipal de Cultura. Em 27 de maio de 2011, foi transformado de departamento da Secretaria Municipal de Cultura em fundação de direito público, com um corpo artístico formado pela Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, Coro Lírico Municipal de São Paulo, Balé da Cidade de São Paulo, Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, Coral Paulistano , Orquestra Experimental de Repertório, Escola Música do Theatro Municipal de São Paulo e pela Escola de Dança  do Teatro Municipal de São Paulo, e tendo como espaços o Teatro Municipal, a Central Técnica do Teatro Municipal e a Praça das Artes.

Inaugurado em 12 de setembro de 1911, o edifício inspirado na Ópera Garnier, em Paris, tem a assinatura do arquiteto Ramos de Azevedo e projeto interno dos italianos Cláudio Rossi e Domiziano Rossi. Além de receber grandes nomes mundiais da música e da dança como Enrico Caruso, Maria Callas, Francisco Mignoni, Duke Ellington, Ella Fitzgerald, Isadora Duncan, Nijinsky, Nureyev e Baryshnikov, o Teatro também foi cenário de um dos principais eventos da história das artes no Brasil, a Semana de Arte Moderna.

Nos seus quase 107 anos de história, três grandes reformas marcaram as mudanças e renovações do prédio: a primeira delas, em 1954, criou novos pavimentos para ampliar os camarins, reduziu os camarotes e instalou o órgão G. Tamburini; a segunda, de 1986 a 1991, e para celebrar o centenário, a terceira reforma, mais complexa que as anteriores, restaurou o edifício e modernizou o palco.

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