Hot Club de Piracicaba comemora dez anos de música e amizade


Carlos Motta

O palco do belo Teatro Erotídes de Campos, no Engenho Central, em Piracicaba, vai se iluminar neste sábado, 21 de abril, com uma constelação de músicos de primeira grandeza, que vão apresentar, a partir das 20 horas, o novo álbum do Hot Club de Piracicaba, que neste ano completa sua primeira década de existência. 

Para quem não sabe, o Hot Club de Piracicaba (HCP) não é um clube com associados, mas sim um conjunto musical, fundado em 2008 pelo juiz de Direito José Fernando Seifarth de Freitas, que tem a música por hobby, e pelos profissionais liberais Alcides Lima (Cidão) e Marcos Mônaco, respectivamente baterista e clarinetista da prestigiada banda paulistana Traditional Jazz Band Brasil.

O grupo foi formado para o tocar o “jazz manouche”, ou "cigano", aproveitando elementos do jazz tradicional e da música brasileira. Atualmente há uma infinidade de "Hot Clubs" em todos os continentes, que se dedicam a preservar o estilo criado pelo violonista belga Django Reinhardt na década de 30 do século passado. O nome Hot Club deriva do grupo que imortalizou a música de Django, o Quintette du Hot Club de France.

O HCP gravou, em 2008, o seu primeiro CD, "Jazz a La Django", inspirado na obra de Django Reinhardt. Em 2010 lançou o CD “Quinteto do Hot Club de Piracicaba”.  Seu novo trabalho, “Amigos”, tem participação de músicos nacionais (Bina Coquet, Florian Cristea, Seo Manouche) e internacionais (Howard Alden, Richard Smith, Robin Nolan e Paul Mehling). Misturando instrumentos de metais, típicos da bandas de jazz tradicional, com violões ciganos, o HCP foi o primeiro grupo brasileiro a ter incluída uma música no prestigiado selo europeu “Hot Club Records”, de Jon Larsen, dedicado exclusivamente ao jazz cigano.

O grupo realizou inúmeras apresentações nos teatros municipais de Piracicaba, nos Sesi e Sesc do Estado de São Paulo, e na capital, em locais como os prestigiados Bourbon Street Music Club e Jazz nos Fundos. Tocou no palco principal da Virada Cultural Paulista em 2015 e acompanhou artistas internacionais no Brasil, como Eva Scholten e Paul Mehling. É o grupo anfitrião do Festival Internacional de Jazz Manouche de Piracicaba e encabeçou o movimento do jazz cigano brasileiro, que surgiu justamente por meio desse festival.

O HCP é integrado por André Grella (piano), Eliezer Silva (trompete), Fernando Seifarth (violão/guitarra), Frank Edson (tuba), Giliadi Richter (washboard/bateria), Pa Moreno (vocal) e Eloy Porto Neto (trombone). 


No sábado, além desses músicos, o show de lançamento do CD "Amigos" contará com a participação do violonista inglês radicado em Nashville Richard Smith, Tjb Brasil, Estela Manfrinato, Saulo Ligo, Renata e Paulo Bandel, o multi-instrumentista Sandro Haick, Wana Narval, Wagner Wagnão Silva, Otiniel Aleixo, Iuna Tuane Sanches, Bina Coquet, Nando Vicencio, Renata Meireles, Carlos André Donzelli e Guilherme Ribeiro Ferreira.

A pedido do blog, o violonista Fernando Seifarth, um dos fundadores do HCP, deu um depoimento sobre os dez anos do grupo: "Toda vez, repito, toda vez, é um enorme prazer tocar com essa turma. Nenhuma briga em dez anos, muita risada e história para contar", resume.

"Tenho muito orgulho do que conquistamos"

Em 2008, eu e meus dois grandes amigos Cidão e Mônaco, membros da Traditional Jazz Band, tivemos a ideia de fundar o Hot Club de Piracicaba. Seria uma banda com a ideia de receber convidados, para ser um verdadeiro clube de jazz.

Muito embora tivéssemos como referência inicial o jazz cigano de Django Reinhardt, a nossa linguagem tinha muito do jazz tradicional, talvez pela própria formação, com uso de instrumentos de metais e influência da Tradional Jazz Band. Isso é bem perceptível no primeiro CD, lançado em 2008.


Ao longo do tempo, fomos amadurencendo e encontrando outros caminhos e formações.
Constituímos um quinteto e gravamos o segundo CD, com a participação do violonista piracicabano Otiniel Aleixo (Legal). Ele trouxe a proposta de misturar música brasileira com o jazz manouche. Foi um projeto muito bem sucedido, que nos rendeu a participação no selo europeu Hot Club Records numa coletânea de jazz manouche (Django Festival nº 6), com a música “Caravan”. Uma formação instrumental única nesse tipo de grupo, com dois violões ciganos, trompete, trombone e tuba.


Depois, a cantora Pa Moreno ingressou na banda, e trouxe a sua influência do blues. E o pianista André Grella incorporou ao grupo uma linguagem mais moderna.


O trabalho com Bina Coquet, a partir de 2015 (e durante toda a gravação do novo CD “Amigos”), inseriu o Hot Club na trilha  que eu sempre desejei: a linguagem virtuosística do jazz manouche nos solos de violão, com uma sólida banda e arranjos criativos com os instrumentos de metais, bateria e piano, em músicas instrumentais e vocais.


A par disso, formou-se uma amizade muito forte entre os integrantes do grupo, o que, para mim, é o segredo do seu sucesso e longevidade.


É uma energia explosiva o encontro dos músicos nas apresentações.


Além daqueles que podem ser considerados “fixos” no grupo (André Grella, Eloy Porto, Eli Silva, Frank, Pa Moreno, Gilliadi e eu), há aqueles que sempre que podem se juntam ao grupo, como Wagnão (bateria), Augusto (saxofone), Edu Belloni (guitarra) e Ricardinho (trombone), além das cantoras Iuna Sanches, Estela Manfrinato e Wana Narval. O fotógrafo Antonio Trivelin, o publicitário Luis Castel, o luthier Fabiano Lima e o engenheiro de gravação Renato Napty fazem parte dessa família. O mais novo integrante da trupe é o chileno Sebastian Abuter Pinto, que também tem tocado clarinete conosco.


Tenho muito orgulho do que conquistamos. Além de sermos verdadeiros anfitriões do festival de jazz manouche de Piracicaba, nos apresentamos com músicos incríveis como Robin Nolan, Eva Scholten, Richard Smith e Paul Mehling.


A maior dificuldade da banda é conciliar atividades e horários. Porque é um time muito grande e todos tem outros trabalhos. Mas sempre damos um jeito de tocar ao menos uma vez por mês. E uma coisa é verdade: toda vez, repito, toda vez, é um enorme prazer tocar com essa turma. Nenhuma briga em  dez anos, muita risada e história para contar. 

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