O triste Natal de Assis Valente



Carlos Motta


A única música natalina brasileira que sobrevive à passagem do tempo é "Boas Festas", de Assis Valente, lançada em 1933.

Assis Valente foi um compositor de mão cheia. Emplacou vários sucessos, como "Camisa Listrada", "Brasil Pandeiro", "Boneca de Pano", "Uva de Caminhão", "Cai, Cai, Balão", "E o Mundo Não se Acabou", "Fez Bobagem"...

Na vida pessoal, convivia com demônios - suicidou-se em 1958, depois de duas tentativas frustradas.

"Boas Festas" é a antítese das músicas natalina, geralmente evocativas de boas lembranças ou desejosas de um futuro repleto de paz e amor.

Seus versos doem de tão bonitos e tristes e são um reflexo da personalidade torturada de seu autor.

A melodia, uma marchinha, é fácil de cantar, e se adapta a qualquer tipo de interpretação ou arranjo.

É uma obra-prima, que permanece atualíssima - afinal, quantas crianças ainda existem neste Brasil para as quais Papai Noel não passa de uma figura tão distante quanto a mais distante galáxia do universo? 

Músicas assim são eternas.

Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel

Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem

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