O novo pode ser o velho conhecido de todos


Dez entre dez dos chamados "analistas" que abundam em nossa mídia apostam que a eleição presidencial do próximo ano terá o protagonismo do "novo", a candidatura que não se confunde com o estraçalhado modo tradicional de se fazer política.

Esse novo que fará um sucesso estrondoso, dizem os sabichões, tanto pode ser o prefeito paulistano, com a sua inédita gestão à distância, ou o deputado fascista, com seu apelo aos instintos mais primitivos, ou a amante da natureza, com sabe-se-lá o quê.

Todos eles, e mais alguns que surgirão até o início da campanha presidencial, representam, cada qual à sua maneira, para esses experts, a antítese do político que virou sinônimo de corrupto, de ladrão, do ser mais abjeto na face da Terra.

O Brasil é, porém, um país peculiar - ao menos nesse quesito da política.


Numa democracia o normal é que os políticos tenham como foco os anseios do seu eleitor, e para tanto é necessário que dialoguem com ele, que saibam o que ele pensa e o que deseja que seja feito para que a vida melhore.

Esse, obviamente, não é o caso do Brasil.

Os exemplos do divórcio entre a sociedade e a classe política são diariamente renovados.

O presidente da República faz, com um cinismo inacreditável, troça de sua impopularidade, e contrariando toda a lógica, diz que é bom que seja detestado, porque assim fica mais fácil levar adiante as "reformas" que planejou para o país.

Que falha dos nossos "cientistas políticos" não tê-lo incluído entre as "novidades" que surgiram nestes tempos estranhos...

Enquanto isso, lá no Nordeste, longe dos palácios brasilienses e dos espigões paulistanos, um velho conhecido de todos vai fazendo política do jeito que se fazia antigamente - o jeito que consagrou estadistas em todo o mundo e foi praticamente abandonado no Brasil.

E o seu modo de fazer política arrasta multidões, extrai risos e choros, entusiasma jovens e velhos, homens e mulheres, que não só querem vê-lo ou ouvi-lo, mas desejam tocá-lo, fazer um "selfie" para mostrar aos amigos, aos familiares, aos vizinhos.

Afinal, ele é o "cara", como disse certa vez, um presidente da nação mais poderosa do mundo.

E, mais que o "cara", ele é uma ideia, uma esperança.

Num país tão maltratado quanto o Brasil o novo pode ser apenas aquele que vai ao povo, conversa com o povo, aperta a mão do povo, abraça o povo e fala como o povo.

Num país onde tudo se decide em salas de mobília e ar-condicionado "tops" de linha, caríssimos, capazes de criar um ambiente da mais perfeita assepsia, a novidade pode ser somente quem não tem medo do povo. (Carlos Motta; foto: Ricardo Stuckert) 

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