O Brasil Novo e seus personagens de ficção


O Brasil Novo é tão diferente de tudo o que já se viu que seus protagonistas, os homens de bem que se instalaram nos gabinetes refrigerados da Casa Grande, cansados da dura realidade do dia a dia, incorporaram ilustres e afamados personagens de ficção.

Observemos, por exemplo, o mais alto chefe de Executivo, o culto Dr. Mesóclise: é como se o Amigo da Onça, o imortal personagem criado por Péricles, tivesse saído das páginas de O Cruzeiro, onde, durante anos, estampou seu oportunismo e mau-caratismo, características de boa parte dos brasileiros que obedecem fielmente a prestigiada Lei de Gerson, aquela da regra de ouro de que o importante é levar vantagem em tudo. 


Um pouco abaixo na hierarquia, temos um ministro da Justiça cujo sobrenome nos lembra um substantivo que tem, segundo os dicionários, sinônimos como bordel, lupanar e prostíbulo: basta que ele abra a boca para que vejamos à nossa frente o nelsonrodriguiano Palhares, a personificação do canalha.

Outros personagens da tragicomédia brasilnovista preferiram se tornar caricaturas de si próprios, como o inacreditável ministro da Cultura, que outrora se intitulava comunista, e de alguns anos para cá vem exercendo, com extrema perícia, o sinecurismo.

Há ainda aqueles que se espelham em figuras históricas de má catadura e fama, que abalaram o mundo com suas convicções na selvageria, genocídio e maldades afins.

Vestem tal figurino um certo magistrado e sua corte de áulicos, um parlamentar boca-suja de mente primitiva, e um prefeito de uma metrópole, recém-eleito, apreciador de blusas de cashmere e fantasias variadas.

Sobre esse último é importante destacar que até o momento existem algumas dúvidas se ele é ele mesmo ou se habita o corpo de um outro dândi contemporâneo conhecido na alta roda da sociedade como Chiquinho Scarpa - conde Chiquinho Scarpa, como convém a personagens esnobes de folhetim.

Esse Brasil Novo daria uma boa novela da Globo... (Carlos Motta)

Comentários

  1. Tá certo Motta. Infelizmente fui ler "a descrição da pocilga federal" na hora do almoço. Só me resta imitar o Adir:"vou ali vomitar, e já volto".

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