O melhor está no fim



Nada é mais divertido, já que o mundo está de ponta-cabeça, do que ler o que os especialistas acham de tudo isso.

Há opiniões para quase todos os gostos.

Ficam faltando, porém, aquelas realmente originais, que poderiam levar as pessoas a acreditar que a evolução humana não é simples acaso.

A maioria dos palpiteiros exibe seus conhecimentos com uma terminologia técnica pretensiosa, como se ela fosse suficiente para respaldar as obviedades do discurso. É o caso clássico do que popularmente se chama de “dourar a pílula”.

A técnica jornalística conhecida como pirâmide invertida, que aqui chegou importada dos Estados Unidos, manda o redator colocar no início da notícia tudo o que é realmente importante. Parte do pressuposto de que o leitor é preguiçoso, ou que o fato narrado não merece mesmo muita atenção, ou que o redator é mesmo ruim.

Outra técnica é desenvolver a história aos poucos. É mais difícil, pois exige um mínimo de talento de quem escreve.

Lembro de um veterano jornalista do Estadão que, por medo de ver suas matérias mutiladas pelos fechadores, implorava:

– Se for para cortar, que corte no começo. O melhor está no fim.

É isso o que está faltando para esses comentaristas desta crise: chegar ao fim da história.

(Carlos Motta, publicado originalmente em 14/11/2008 no blog "Crônicas do Motta")

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