O dono de jornal e a previsão do tempo


Meu chefe já havia avisado:

- O dr. Júlio [Mesquita Neto, diretor-responsável do Estadão de 1969 a 1996] liga todo sábado, no fim de tarde, para perguntar sobre as chamadas da capa da edição de domingo, mas o importante mesmo é você dizer a ele como está o clima aqui em São Paulo.

Não entendi. 

Ele me explicou:

- É que ele passa os fins de semana em sua fazenda em Louveira (município a 70 quilômetros da capital paulista) e, sei lá, quer saber se está chovendo, se está frio ou calor quando ele voltar para casa.

Naquele tempo eu trabalhava como redator da primeira página e aquele era um dos meus primeiros plantões de sábado naquela função.

E não deu outra.

Por volta das 5 da tarde o telefone toca.

Atendo e escuto:

- É o dr. Júlio. Quero falar com o ...

- Ele não está, doutor. É sua folga. 

- Ah, está bem. Quem está no seu lugar?

- Sou eu.

Dei meu nome, obviamente ele nem sabia que eu existia até aquele momento, mas continuou a conversa como se eu fosse um velho conhecido.

- Quais são os destaques da edição de amanhã?

Fui lendo os títulos das chamadas, fazendo alguns comentários tolos sobre as notícias, até que ele me interrompeu:

- Está ótimo. Mas me diga uma coisa: como está o tempo aí em São Paulo.

- Está quente, com poucas nuvens, bastante sol. Acho que não vai chover nem hoje, nem amanhã, doutor.

- Muito bom, obrigado.

E desligou.

Pensei comigo: patrão é um bicho tão esquisito que prefere acreditar na palavra de um empregadinho qualquer do que num serviço de previsão do tempo.

Vá entender. (Carlos Motta)

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