A política serrana não admite opções, só dilemas

Se ainda votasse na capital paulista claro que optaria pela reeleição de Fernando Haddad, prefeito que tenta levar um mínimo de civilização àquela metrópole ingovernável.

Como, porém, meu domicílio eleitoral é Serra Negra, cidade interiorana onde resido há pouco mais de dois anos, posso apenas torcer para que os paulistanos se livrem do vírus da ignorância que os mantêm refém das pragas mais nefastas para o progresso social: a intolerância, o ódio e o preconceito.

Descartado Haddad, como eleitor serrano fico entre o fogo e a frigideira, ou seja, não tenho opções, mas sim um dilema: os pré-candidatos ao cargo de prefeito da cidade são, para não carregar nas tintas, terríveis.

Não há entre os três anunciados nenhum com um perfil minimamente progressista.

São todos representantes da oligarquia local.

O poder político, e por extensão, econômico, de Serra Negra - e de várias outras cidades do interior de São Paulo - é exercido há décadas pela família Chedid, sob o comando do patriarca Jesus, ex-prefeito de Bragança Paulista e da própria Serra Negra, cujo filho Edmir é deputado estadual.

O atual prefeito serrano é um octogenário, recentemente condenado, junto com o vice, à perda do mandato, por improbidade administrativa - está no cargo porque recorreu da sentença.

Ele faz parte do grupo político dos Chedid, donos da única empresa de ônibus municipal da cidade e da que faz o transporte intermunicipal - a família tem outras tantas empresas como essas espalhadas pelo Estado.

A vida política serrana é, assim, como a de tantas outras cidades brasileiras, dominada por "coronéis", exercida e controlada pelos endinheirados, com a maioria do eleitorado votando ou por interesse próprio, para manter empregos públicos ou em troca de favores, e em muitos casos, por grana mesmo, ou simplesmente desinteressada de participar do debate social.

O grupo político dos Chedid se abrigou no DEM, mas a sopa partidária é o que menos conta para esse pessoal - partidos políticos são apenas instrumentos necessários para que viabilizem seus projetos de poder.

O PT na região é praticamente inexistente. 

Tem alguma representatividade em Amparo - o prefeito anterior pertencia ao partido, mas não conseguiu eleger o sucessor -, e até meses atrás contava com dois vereadores em Serra Negra.

Os dois, como tantos outros "petistas", pularam do barco. 

Fazem agora, parte do PR, partido que, entre outros notáveis, tem entre seus quadros, nomes como os de Inocêncio de Oliveira, Alfredo Nascimento, Blairo Maggi, Magno Malta, Anthony Garotinho, César Borges e José Roberto Arruda.

Estão em boa companhia. (Carlos Motta)

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