Bombom leva histórias e o "Vamos a La Playa" ao palco, 33 anos depois



Na quinta-feira, 9 de agosto, às 20 horas, a rádio Educativa FM de Piracicaba vai gravar, na unidade do Sesc da cidade, uma edição especial do programa “Resgate 105”, que é exibido há 12 anos na emissora: os convidados são os ex-integrantes do grupo Bombom, uma das "boy bands" brasileiras mais famosas da década de 1980, que tocarão músicas próprias e de artistas da época e falarão sobre os anos em que fizeram sucesso. O programa vai ao ar no dia 25, sábado, às 14 horas.

Os integrantes da banda que se reencontrarão no palco do Sesc Piracicaba são hoje senhores na faixa dos 50 anos que nunca perderam o gosto pela música - e pela carreira musical. 

Sandro Haick se tornou um dos principais músicos do país, multi-instrumentista que produziu inúmeros artistas e gravou vários discos, tendo, durante vários anos, acompanhado Dominguinhos por suas andanças. Atualmente, trabalha intensamente no seu estúdio, toca no grupo Os Incríveis, com seu pai Netinho, desenvolve o curso online “O segredo da música", com quase mil alunos, e ministra oficinas e workshops por todo o Brasil.

Fernando Seifarth, conhecido como Dino no Bombom, formou-se em Direito no Largo de São Francisco e ingressou na magistratura paulista, sendo atualmente juiz da Vara da Família em Piracicaba. Passou a ter a música como hobby e fez uma verdadeira imersão no jazz cigano, gênero criado pelo belga Django Reinhardt. Fundou o grupo “Hot Club de Piracicaba” em 2008, com o qual gravou três CDs e produz o Festival de Jazz Manouche de Piracicaba desde 2013.

Marcelo Papini seguiu a carreira solo como cantor e compositor e foi um dos fundadores do grupo Vexame com a atriz Marisa Orth.

Paulo Roberto Rozani trabalha na Izzo, fabricante de instrumentos musicais, e mantém contato com os artistas brasileiros, tocando eventualmente contrabaixo em jam sessions.

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A história do Bombom se confunde com a de seu maior sucesso. No ano de 1983, “Vamos a la Playa”, composição de S. Righi e C. Labionda, havia estourado na Europa. A CBS, uma das principais gravadoras da época no país, queria lançar a música no Brasil, com uma versão em português. A empresa também estava interessada em formar uma “boy band” à semelhança do famoso grupo de Porto Rico “Menudos”, que estava em bastante evidência.

Enquanto isso ocorria, o músico Luiz Franco Thomaz, o Netinho, ex-baterista do grupo “Os incríveis “, estava impressionado com o talento de seu jovem filho Sandro que, com apenas 12 anos de idade, já se revelava um excelente baterista. Netinho decidiu então que chegara o momento de Sandro integrar um grupo musical. E começou a garimpar outros jovens talentos.

Marcelo Papini, com 17 anos à época, foi apresentado a Netinho pelo publicitário Sidney Biondani, para ser o vocalista e guitarrista, e Fernando Seifarth, o “Dino”, com 15 anos, pelo músico Joel Soares, para ocupar a posição de baixista. Foi então formado o trio Sandro, Marcelo e Dino, que começou a ensaiar no escritório de Netinho na Rua 23 de Maio, em São Paulo. As primeiras músicas foram “Eu sou Boy” (Magazine), Bem-Te-Vi (Renato Terra) e ET (composição de Sandro).


Alguns encontros depois, surgiu a ideia de se convidar um quarto integrante, e Paulo Roberto Rozani se juntou ao grupo.

A banda foi batizada como “Bombom”, nome escolhido por Netinho e Sidney Biondani. Sempre que indagados a respeito da origem do nome, os músicos respondiam: bom duas vezes e gostoso.

A partir daí, as coisas começaram a acontecer muito rapidamente para os garotos. Netinho reservou um horário no estúdio da TV Gazeta e ali o grupo gravou o seu primeiro demo, com a música “ Belo Plug-Ug”, de Wyllie, Netinho e Gilberto Santamaria. Com ela, a banda participou de alguns programas no SBT e na Gazeta, o primeiro deles no "Almoço com as Estrelas", apresentado pelo casal Aírton e Lolita Rodrigues.


Em seguida, Netinho organizou uma turnê pelo Paraná com seu projeto pessoal “Amor e Caridade”, e o Bombom fez os shows de abertura. Grandes palcos, programas de rádio e TV, notícias em jornais, equipamentos de primeira, viagem pelas estradas com um ônibus próprio: a excursão empolgou os jovens músicos.


Na volta a São Paulo, Netinho recebeu o contato da CBS e o convite para o Bombom integrar os quadros da empresa e gravar um compacto simples - é bom lembrar que o CD ainda não existia. O compacto simples era um disco de vinil menor, que geralmente continha somente duas músicas, uma de cada lado.



Os garotos foram para o recém-construído estúdio Transamérica, que se situava ao lado da rádio com o mesmo nome, na Rua Pio XI, em São Paulo. Lá, com o convidado Nico Rezende nos teclados, tocaram e cantaram a versão brasileira de  “Vamos a la Playa”,  escrita por Kamargus, com produção de Luis Carlos Maluly. O registro foi feito pelo técnico de gravação Roberto Marques. Para o lado B do compacto, foi regravada a música “Belo Plug-Ug”.

Carlos Freitas, irmão de Dino, que veio a se tornar engenheiro de masterização da Classic Master, foi acompanhar as gravações e logo passou a trabalhar no estúdio como assistente, chegando até a seu gerente em poucos anos.

Produzir a capa do compacto, de Sidney Biondani, com fotos de Williams Biondani e Roberto Donaire, foi outra experiência nova e exaustiva para o grupo: fotos profissionais, roupas, maquiagem, tudo era novidade para a banda. 

O compacto foi lançado no fim de 1983 e se transformou num grande sucesso de vendas. Netinho passou a ser o empresário e produtor da banda, que gravou seu primeiro videoclipe em praias do Rio de Janeiro.

A partir daí o Bombom começou o trabalho de divulgação de “Vamos a la Playa” e passou a participar de todos os programas de auditório da época, nas várias emissoras de televisão: Chacrinha, Bolinha, Raul Gil, Qual é a Música (Silvio Santos), Barros de Alencar, Bozo, Dácio Campos, J. Silvestre, Serginho Leite, Xuxa e Viva a Noite (Gugu Liberato), entre outros.


Para ir gravar no Chacrinha, o grupo viajava pela Varig na “ponte aérea Rio-São Paulo”, nos lendários aviões Electra. No fundo da aeronave, havia uma espécie de sala, onde frequentemente a banda se encontrava com artistas de novelas.

Já os músicos famosos na época eram contatados pelos garotos nos programas de TV. Foi neles que eles conheceram os colegas do Magazine, Paralamas do Sucesso, Metrô, Rádio-Táxi, Dr. Silvana e Cia, Grafitte, Ultraje a Rigor, Blitz... “Tive o privilégio de conhecer pessoalmente o pessoal do 14 BIS, de quem eu era grande fã", diz Fernando Seifarth. "Me lembro de que pedi ao Claudio Venturini me mostrar como ele fazia o solo de As 4 Estações de Vega, do álbum A idade da Luz."

Vários programas de TV foram marcantes para os garotos, alguns deles inusitados, como o de Raul Gil, gravado na Ilha Porchat, com o grupo As Patotinhas, que se passava no fundo do mar. Também nesse programa a banda saiu-se vitoriosa de uma competição com outros grupos. “Ganhamos quatro skates Bandeirantes”, recorda Fernando.

No programa “Qual é a Música”, a banda competiu com Marco Camargo, Ovelha e Angra. Perdeu dessa terceira. Afinal, eram jovens, sem experiência de tocar em bailes, e não tinham tanto conhecimento de nomes e letras de canções de vários estilos e épocas. “No programa do Barros de Alencar, perdemos uma competição para nossas amigas do grupo Patotinhas, que conheciam bastante a música brasileira", diz Fernando. "Os programas eram incríveis, não havia roteiro e as competições eram francas e reais, e no fim das contas nos divertíamos e ríamos muito quando posteriormente os assistíamos.” 

O Bombom também participou de uma temporada de alguns dias de shows no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo, promovidos pela Rede Globo e apresentado por César Filho, junto com Magazine, Fabio Junior, Eduardo Dusek e Eletric Boogies.


Outro evento marcante foi a “descida do Papai Noel” no estádio do Morumbi, lotado por mais de 100 mil pessoas. Vários artistas se apresentaram. “Bem no momento da nossa performance, apareceu aquela mensagem 'interrompemos a transmissão por problemas técnicos...' Mas, enfim, pude conhecer o vestiário do São Paulo Futebol Clube”, lembra Fernando.


O grupo fez turnês em várias cidades nos Estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Mato Grosso, São Paulo e Paraná. No interior de São Paulo, participou de shows organizados por Raul Gil e Gugu Liberato. Na capital, tocou em danceterias famosas na época, como a Rádio Club. No Paraná, em Santa Helena, a banda participou, em janeiro de 1985, de um festival de rock, o “Oeste Rock show”, às margens do lago Itaipu, com os grupos Rádio Táxi, Grafitte, Absyntho e Metrô, entre outros.

Em razão do grande sucesso de “Vamos a la Playa”, o Bombom chegou a ser protagonista de uma campanha publicitária da pasta de dentes Kolynos Gel, produzida pela agência TVC, com exibição do comercial nos cinemas e na TVC.

Na mesma época, a CBS solicitou a gravação de um Long Play (LP), que foi produzido por Luis Carlos Maluly, com músicas autorais do grupo e versões brasileiras de canções que eram sucesso na Europa. As músicas foram arranjadas por Lincoln Olivetti, que tocou todos os teclados, e o disco teve a participação do guitarrista Robson Jorge. O grupo emplacou um novo sucesso na rádio, a música “Parque dos Sonhos”. "Fada", composição de Léo Jaime, cantada por Sandro Haick, também mereceu destaque na mídia. A capa do LP outro destaque, foi feita por Sidney Biondani. As duas músicas ganharam videoclipes.

Os quatro integrantes do grupo não se limitavam a cantar - eram músicos e tocaram seus instrumentos na gravação. O vocalista principal era Marcelo Papini, mas os outros integrantes faziam os backing vocals. 

No fim de 1984, a banda gravou um novo single, “Mexe Baby”, que foi parte da coletânea “Rock Wave” da CBS, com artistas como RPM, Rádio-Táxi, Sempre-Livre, Metrô e Léo Jaime, entre outros. Durante 1985, o grupo fez shows por todo o país e programas de TV, até que veio a se dissolver no fim do ano.

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