As versões mais aceitas dão conta de que o disco “Feito em Casa” (1977), de Antônio Adolfo, marca o início da produção musical independente no país – o músico vendeu o próprio carro, um órgão eletromecânico e alugou um pequeno estúdio no centro do Rio de Janeiro para, ele próprio, divulgar, distribuir e vender o LP. Mas também há quem diga que essa primazia fica com o LP “Paêbirú”, de Lula Cortes e Zé Ramalho, de 1972, que foi gravado nos estúdios da Rozemblit e lançado pela Abrakadabra Produções Artísticas, em Pernambuco.
A essas duas versões soma-se agora mais uma - e talvez a mais plausível - com o lançamento, pelo novo selo carioca, do CD que reúne cinco compactos produzidos entre os anos de 1969 e 1970 pela banda niteroiense I.W.Company (Instituto Winston Company).
Remasterizado diretamente dos tapes originais, o CD traz as dez faixas lançadas na época, além de duas inéditas e duas gravações acústicas, realizadas em 2016, na loja Tropicália Discos.
A história da banda niteroiense está contada por integrantes e pela própria Tropicália em 2017 no documentário “Faixa Escondida: I.W. Company, a história da banda psicodélica brasileira de 1969”, dirigido por Marco Dreer, disponível no YouTube.
O primeiro compacto do grupo de Niterói foi lançado em 1969, ano marcado por produções memoráveis do rock internacional (The Who – “Tommy”, The Beatles – “Abbey Road”, álbuns homônimos de Led Zeppelin e Santana, dentre outros) e da música brasileira, como os LPs “Cérebro Eletrônico” (Gilberto Gil), os álbuns homônimos de Elis Regina e Milton Nascimento, além da fase psicodélica de Gal Gosta.
Concebida por Winston, dono do Instituto Winston, um curso de idiomas em Niterói (RJ) da década de 60, a ideia de compor e gravar músicas em inglês tinha o propósito de servir apenas como material didático para os alunos.
Apaixonado pelo movimento da contracultura e do rock psicodélico da época – Winston foi um dos poucos brasileiros que estiverem presentes no Festival de Woodstock – , o dono da escola de idiomas se juntou com o amigo e compositor Ruy Buarque (voz) e o guitarrista/baixista/cantor Liszt Ayala, acompanhados do baterista Cláudio Wilson e do percussionista Manoel Ramos, e formou o I. W. Company.
Descobriram o estúdio Philotsom, na Cinelândia, bairro do centro do Rio de Janeiro, que além de realizar gravações, conhecia também os meandros para a prensagem e fabricação de compactos.
Sem maiores aspirações, os cinco compactos do I.W. Company lançados entre 1969 e 1970 tiveram uma produção bem limitada e foram doados aos alunos. A repercussão se restringiu ao circuito dos cursos de idiomas, ajudando também na publicidade da instituição, porém sem nenhuma projeção para o grande público, sem a realização de shows e muito menos a execução das faixas em emissoras de rádio.
Em 2005, Bruno Alonso, um dos sócios da Tropicália Discos, caminhando pelo centro do Rio, se deparou com um desses compactos à venda na rua e decidiu compra-lo, pensando no gosto peculiar de um de seus clientes colecionadores. A aquisição surpreendeu ambos, comprador e vendedor, que desconheciam tal projeto de rock psicodélico da época.
Dez anos depois, o próprio Winston procurou a loja, visando vender a coleção de vinil de seu falecido irmão. Durante a conversa com os sócios, ligaram o nome do Winston ao compacto e descobriram haver outros quatro. Nascia ali a ideia desse importante resgate, que se deu primeiramente por meio do documentário audiovisual e chega, agora, em CD, com previsão de lançamento em LP para ainda neste ano.
O documentário sobre a história da banda pode ser visto neste link:
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