Quinze anos depois de uma tiragem reduzida e local, na época, conseguida por meio do patrocínio da Eletrobras, pela Lei Rouanet, uma obra-prima da literatura musical ganha sua segunda edição, agora com distribuição nacional, revisada e atualizada. O livro “Villa-Lobos e a Música Popular Brasileira, uma Visão sem Preconceitos” (Ed. Tipografia Musical, preço médio R$ 55,00, 207 páginas), da renomada pesquisadora e professora Ermelinda Paz (foto), é fruto de um estudo iniciado há 30 anos, quando a autora ganhou um concurso de monografias com esse tema.
Baseando-se em testemunhos, fotografias, documentos de época, reportagens, Ermelinda reuniu em sua publicação quase tudo que se publicou sobre Villa-Lobos e os discos lançados com suas músicas, que perfazem centenas de obras. Com um texto fácil e acessível, sem deixar de lado o rigor acadêmico na ampla pesquisa, o livro destrincha a vida do maestro e compositor desde a juventude, na segunda década do século passado, quando muito empobrecido pela morte prematura do pai, decide vender livros raros que herdara para poder financiar o seu sonho de viajar pelo país.
As dificuldades financeiras também o levaram a trabalhar como músico de operetas e de cinema -na época, grupos ou solistas animavam as antessalas. A sua contribuição na educação musical juvenil, por meio do canto orfeônico, que reunia milhares de jovens e crianças em estádios, também foi bastante aprofundada pela autora, que ainda ressalta o verdadeiro objetivo do maestro em educar socialmente por intermédio da música, não fazendo dela apenas uma exibição artística ou recreativa. O maestro levava música para multidões e também foi, provavelmente, o primeiro músico erudito a reconhecer o valor das manifestações populares, compondo inclusive para o violão, um instrumento sem muito prestígio na época.
Filho de um intelectual que gostava de promover saraus musicais em casa, recebendo a nata dos músicos populares, como Pixinguinha, Sinhô, João da Baiana e Donga, Villa-Lobos tinha uma especial relação de amizade e companheirismo com Cartola – por meio de testemunhos, o leitor se surpreenderá com hábitos pouco conhecidos do maestro, como seu interesse especial em prestigiar e vivenciar por tantas horas o Buraco Quente (pé do morro), na Mangueira.
Assim como Pixinguinha e outros músicos da época, Villa-Lobos também tinha o seu mecenas, Carlos Guinle, a quem sempre se preocupava em registrar, em cartas, a devida prestação de contas e o não desperdício – publicadas no livro, muitas dessas cartas revelam também a grande preocupação de Villa-Lobos em cuidar bem de sua obra e de afirmar sua gratidão pelo patrocínio. O livro traz também depoimentos de músicos variados, como Tom Jobim, Wagner Tiso, Edu Lobo, Egberto Gismonti, Elizeth Cardoso, Herivelto Martins, João Pernambuco, Vicente Celestino, Nana e Dorival Caymmi, dentre muitos outros grandes nomes da música brasileira, todos revelando o quanto de Villa-Lobos existe em suas composições.
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