Carlos Motta
Cláudio Jorge lançou um novo disco, diferente dos anteriores, mas tão bom quanto. Foi, como disse no texto que acompanha o trabalho, o álbum que mais tempo levou para produzir: "É o disco mais artesanal, detalhista (...) E não porque eu tenha planejado dessa forma, mas foi assim que ele se impôs nos seis anos de trabalho."
Dada a informação sobre essa novidade - ah, o disco chama-se "Samba Jazz, de Raiz" -, vamos falar um pouco de Claudio Jorge, para aqueles que não conhecem, ou o conhecem pouco: imagine um músico popular completo - instrumentista, compositor, cantor, arranjador, produtor -, que recebeu várias influências em sua vida e carreira e teve a oportunidade de trabalhar com alguns dos mais importantes artistas do país.
Esse é, num resumo do resumo, ele.
Dito isso, é necessário acrescentar um dado essencial para entender a obra grandiosa de Cláudio Jorge: o samba é seu centro, sua base, sua fonte.
E o samba, como todos sabem, não é um só, não é apenas o gênero musical que representa o Brasil, que une este país continente, que dá um mínimo de sentido ao conceito de "nação brasileira" - como outros poucos elementos culturais.
O samba, desde os seus primórdios, é um Amazonas repleto de afluentes que irrigam os mais diversos solos, atravessam os mais diferentes climas e dão vida às mais variadas populações.
O samba é partido-alto, é choro, é terreiro, é canção, é sincopado, é bossa nova, é todo ritmo que está no ar, no coração e na alma.
E, claro, é jazz, sua liberdade, sua criatividade e sua alegria.
Porque música boa é isso: não cabe rótulos a ela.
Triste de quem quer vê-la presa a conceitos, a preconceitos, a definições que não resistem a um simples "gostei" ou "não gostei".
E quem pode não gostar do suingue, das melodias, das letras, dos arranjos, do todo que nos apresenta este "Samba Jazz, de Raiz"?
Já de cara, Cláudio Jorge desarma os espíritos mais conservadores, tacanhos, as mentes fechadas que não admitem que a vida é uma contínua mudança e a arte uma esponja insaciável de influências. A faixa 1 do novo álbum chama-se - e não podia ser de outra forma - "Samba Jazz", e a partir de sua letra, do próprio Cláudio Jorge, é possível compreender tudo o que vem a seguir:
Vou pedir passagem pra explicar meu samba,
É tipo samba jazz, mas ele tem raiz,
Se liga nesse toque, o rótulo proclama,
É linguagem africana, assim a história diz.
Essa modelagem me sacode a cama,
Fazendo a minha vida sempre por um triz,
Vem com baixo de pau, mas swing de bamba,
É pura malandragem que me faz feliz.
O samba é bom de se tocar,
Bom de improvisar,
De qualquer jeito fica bom.
Mas quando o samba encontra o jazz,
Alguma coisa se refaz,
Dá pra perceber no som
Tá lá no que tocou o J. T. Meireles,
No baixo do Luizāo e no Don Salvador,
No Edson Machado e no Wilson das Neves
O groove lá do jazz que o samba arredondou.
Deu para entender?
E depois desse delicioso "samba jazz" vêm mais 14 canções de vários estilos, vários temas, vários acentos e inspirações.
Nelas, Cláudio Jorge tem a ajuda inestimável de Frejat, Humberto Araújo, Itamar Assiére, Fátima Guedes, Leonardo Amuedo, Fernando Merlino, Wilson das Neves, Mauro Diniz e Ivan Lins, os convidados especiais de um time de craques que exibe sua arte pelo disco todo: além de Cláudio Jorge (violão e guitarra), Zé Luiz Maia (baixo acústico), Ivan Machado (baixo elétrico), Camilo Mariano (bateria), Marcelinho Moreira (tamborim, ganzá e pandeiro), Peninha (bongô, reco-reco e congas), Dirceu Leite (clarinete), Walter D'Ávila (guitarra), Victor Neto (flauta), Luís Filipe de Lima (violão 7 cordas) e Cacau D'Ávila (atabaque).
"Samba Jazz, de Raiz" nasceu de um projeto de "crowdfunding", ou como diz o artista beneficiado, "cráudiofunding", a nossa popular "vaquinha". Muita gente colaborou. E não era para menos, pois afinal Cláudio Jorge merece, pelo seu talento, pela sua coerência artística, sua imensa e generosa colaboração para a música popular brasileira, o reconhecimento não só dos amigos, inúmeros, mas de todo o público que ama o Brasil, sua cultura, sua música, sua arte e seu povo.
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