O Pop Center, em Porto Alegre, se prepara para apresentar aos gaúchos sua segunda residência artística. Pensada para levar a arte a todos os públicos, a mostra será inaugurada na segunda-feira (10), às 11 horas, com a presença do curador francês Franck Marlot e do artista pernambucano Renato Bezerra de Mello, que elaborou peças exclusivas para a exposição.
Marlot descreve o trabalho de Renato que poderá ser apreciado pelo público que frequenta o centro popular de compras. As obras vão compor um cenário bem diferente do que as pessoas estão acostumadas a ver. “Sobre uma das duas passarelas que atravessa o Pop Center, uma nuvem de quatrocentos monóculos brancos, suspensos acima do chão, ocupa o vasto espaço da exposição. O conjunto intriga o espectador e o convida a se aproximar e a abrir os olhos para escrutinar e observar as imagens através de monóculos dependurados em diferentes níveis”, revela o curador.
Na obra intitulada Visionários, segundo Marlot, “o espectador imiscui-se no íntimo ao olhar um conjunto de fotos coletadas pelo artista Renato Bezerra de Mello junto a lojistas, os quais participaram da constituição de um banco de imagens de suas vidas tanto profissional como familiar. Se não é possível ver todas as imagens ao mesmo tempo, cabe ao espectador reunir esses instantes. Essa visão permanece parcial e única uma vez que ninguém pode ver todas as imagens, pois alguns monóculos estão inacessíveis aos olhos por estarem suspensos bem no alto”.
A instalação já foi apresentada por Renato, em 2002, e chegou a São Paulo, Paris e Recife. “Se, desta vez, a peça abarca a memória dos lojistas que participaram do projeto, a anterior misturava memória ficcional à memória do artista ao apresentar retratos advindos somente de sua família. Por sua arquitetura global e sua leitura individual, essa instalação anuncia a teia planetária das redes sociais e o internauta por trás da janela do computador”, diz Marlot.
No prolongamento da instalação Visionários e sobre a segunda passarela do Pop Center, Renato apresenta uma segunda peça intitulada de A gente é uma História , que implementa a fala dos lojistas. Durante três dias, ele recolheu suas histórias a partir de fatos que os tivessem marcado por expressar a dureza da vida ou por apresentar momentos de felicidade.
Com uma centena de frases, como citações, selecionadas a partir das entrevistas, o artista cobriu os vidros sobranceiros às passarelas que fazem o caminho do centro popular de compras. “Através dos vidros, o fluxo incessante de carros cria um contraste visual com as letras, com as palavras, com as frases que se inscrevem congeladas na transparência do muro de vidro. É a memória coletiva dos lojistas escarificada no vidro e ofertada por estilhaços pudicos que sugerem um vivido intenso.”
Marlot prossegue na sua análise: “Na rua, as letras invertidas em espelho refletem-se como um eco em direção à cidade, o Pop Center é um local de trabalho e de comércio para os porto-alegrenses, mas é, antes de mais nada, um lugar de acolhida e de humanidade. O artista é um atravessador dessas vozes e é quem nos permite esse encontro privilegiado”.
As duas instalações se prolongam lado a lado, como olhos e a boca compondo um rosto, unitário, “o rosto dos homens e das mulheres do Pop Center que são a história do Rio Grande do Sul”.
Memória dos lojistas
“A primeira instalação, Visionários, bem como a segunda, A gente é uma História, traz-nos a memória dos lojistas. Pelo dispositivo plástico, essa memória coletiva está fragmentada para melhor evocar a intensidade dessas vidas, que através da escrita e de imagens, continuam presentes e não podem ser apagadas”, ressalta.
Para esta 2ª edição da Pop Residência, Renato escolheu enriquecer a visão do público ao convidá-lo para um percurso em lojas desocupadas do Pop Center e pintadas de um branco de museu para a ocasião.
O artista apresenta seis obras que evocam o trabalho de escrita e de desenhos usando bordado (Tanya, Teu Silêncio, 2004; Coração, 2014), botões (Cúmulos Azuis, 2016) e o universo têxtil, associado à tradição familiar. Com o grafite, Renato cobriu metodicamente velhos documentos pessoais e burocráticos que se tornaram quadro (Folhas em branco, 2015), além de componente de uma obra (Ouro Negro, 2015).
Ao introduzir relicários de uma obra em outra obra, o artista dá ao processo o sentido de um fio que se desenrolaria de obra em obra, como uma evidência da qual somente o artista possui as chaves.
A mostra permanecerá aberta ao público até o dia 31 de dezembro, de segunda a sábado, das 9 às 19 horas.
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