Ao longo dos 81 minutos de “Slam – Voz de Levante”, Roberta Estrela D’Alva, uma experiente slammaster (uma apresentadora de "slam"), conduz o espectador por competições de poetry slam - batalhas performáticas de poesia - onde os jogadores rimam jogos poéticos de críticas políticas, de injustiças sociais e, principalmente, de resistência. O filme, dirigido por Tatiana Lohmann e Estrela D'Alva, visita clubes em Nova York e Chicago; atravessa o oceano até o campeonato mundial de slam em Paris e volta para as cidades do Rio e de São Paulo. Nesse caminho, vão se revelando os bastidores deste movimento, talentos dos mais diversos países e poesias tão eletrizantes quanto emocionantes.
Completando dez anos de chegada ao Brasil, os poetry slams são batalhas de poesias performáticas que unem texto com a habilidade de apresentá-lo no palco. O público é peça fundamental desse “jogo” e tem a permissão (e talvez a responsabilidade) de participar ativamente das disputas. Celebrada em todo o mundo, as apresentações têm se alastrado com enorme impacto no público jovem e periférico. Hoje, já existem mais de 150 comunidades espalhadas em 18 Estados do país. E é isso que o filme mostra!
Filmado entre 2011 e 2017, o longa culmina com a participação da brasileira Luz Ribeiro na Copa do Mundo de Slam em Paris. Nas competições, os poetas apresentam suas experiências, vivências e pensamentos de maneira muito pessoal. Nas poesias de cunho político, digerem as mazelas culturais de seu país de origem e quase como uma forma de redenção, transformam sua indignação em poesia. Um jogador canadense, de origem asiática, aborda o comércio sexual (abundantemente praticado nestes países) e regurgita o muro de Donald Trump entre as fronteiras de Estados Unidos e México; um franco-canadense, a invisibilidade dos soropositivos na sociedade francesa; e Roberta Estrela D’Alva indaga: “qual a diferença entre ser escravo do dinheiro ou do feitor?”. Mas há também pontes de autoestima e esperança, como vemos na apresentação de um menino orgulhoso de sua origem na favela, participante do Poetry Slam da Guilhermina, São Paulo, Brasil: “Moro na favela e tenho direitos, mas muitos me ignoram e não me dão respeito. Na escolar eles se afastam de mim e falam: 'muleque, favelado, sai de perto daqui'. Moro na favela e acho isso normal, ‘sou da selva, sou leão, sou demais pro seu quintal’. Sou favelado ‘memo’ e tenho orgulho disso, por isso ser seu patrão no futuro, então pense nisso!”
“Ocupar os espaços públicos é uma vocação do poetry slam no Brasil. São raros os slams indoors por aqui, o que reforça ainda mais o seu caráter político. Não que lá fora não exista esse caráter político, mas aqui é especificamente forte. O boom dos slams dos últimos anos aconteceu em sincronia com o grande balanço político pelo qual o país vem passando. A questão racial, o feminismo, a questão do transgênero e a luta de classes são assuntos recorrentes na cena de slam brasileira” esclarece Tatiana Lohmann.
A poeta Roberta Estrela D’Alva, uma das diretoras do longa, é fundadora do movimento, que apareceu em 2008 no Brasil, completa dez anos neste ano e vem crescendo cada vez mais . O slam ganhou espaço tanto em eventos tradicionais de literatura como a Bienal do Livro de São Paulo, como em outros dedicados especificamente literatura periférica e negra como a FLUP (Festa Literária das Periferias), programada para novembro no Rio.
Exibido com sucesso na Mostra Internacional de São Paulo do ano passado, o documentário conquistou os prêmios de Melhor Direção de Documentário e Prêmio Especial do Júri no Festival do Rio de 2017, e o prêmio de Melhor Filme Nacional no Festival Internacional Mulheres No Cinema (FIMCINE).Com produção da Exótica Cinematográfica em coprodução com a Globo Filmes, GloboNews e Miração Filmes e apoio do Itaú Cultural, o filme estreia em 22 de no novembro com distribuição da Pagu Pictures.
Numa ação inclusiva, todas as cópias do longa terão legenda descritiva, recurso que permite que pessoas com surdez e deficiência auditiva assistam ao filme.
Trilha sonora
Eugênio Lima e Roberta Estrela D’Alva assinam a trilha sonora que traz uma compilação de vozes contemporâneas com alguns dos mais relevantes nomes do funk, rap, pop e rock nacional como MV Bill, Liniker, Ellen Oléria, MC Daleste, MC Marechal e Karina Buhr, entre outros.
A faixa “Levante”, interpretada por Lurdez da Luz, é assinada pelo internacionalmente renomado produtor musical Alexandre Basa. A trilha conta ainda com a participação especial da artista de spoken word norte-americana Jessica Care Moore.
Slam é voz de Levante
“A colonização começou pelo útero, matas virgens, virgens mortas. A colonização foi um estupro!” - Poeta Luiza Romão
“Os meninos passam lisos pelos becos e vielas... vocês que falam be-cos-e-vi-e-las, sabem quantos centímetros cabem um menino, sabem de quantos metros ele despenca quando uma bala perdida o encontra, sabem quantos ‘nãos’ ele já perdeu a conta? Quando “cês” citam quebrada nos seus TCC’s e teses, ‘cês’ citam a parede natural de tijolo baiano, ‘cês’ citam os seis filhos que dormem juntos, ‘cês’ citam que geladinho é bom só porque custa 1 real, ‘cês’ citam que quando chegam para fazer suas pesquisas, seus vidros não se abaixam?”- Poeta Luz Ribeiro
“Verdade seja dita: o seu discurso machista, machuca. E a cada palavra falha, corta as minhas iguais como navalha. Ninguém merece ser estuprada, violada, violentada, seja pelo abuso da farda ou por trás de uma muralha. A minha vagina não é lixão pra dispensar as suas tralhas, canalha!” - Poeta Mel Duarte
Sinopse
Em Chicago, NY, Paris, Rio e São Paulo, a mesma cena com diferentes faces: os poetry slams, batalhas poéticas performáticas, se firmam como encontros que instigam a criatividade e o convívio entre diferentes e surgem diante da onda política conservadora mundial como ágoras do livre pensamento e expressão. No Brasil, a poeta Luz Ribeiro vence o campeonato nacional e vai para a Copa do Mundo de Poetry Slam, em Paris, representando a nova vertente negra e feminista que tem se firmado pela virulência de seu verbo politizado.
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