Em 2013, quando venceu um dos mais prestigiosos concursos de piano no mundo – o Clara Haskil, na Suiça -, Cristian Budu perdeu o anúncio dos classificados para a finalíssima, que ele venceria em seguida. Tinha ido jantar com a família, convencido de que não havia chance de ganhar. Cinco anos depois, morando na ponte Brasil-Alemanha e com a agenda repleta, ele já se estabeleceu como um dos brasileiros mais talentosos da nova geração.
Budu abre a temporada de concertos na Casa Firjan – nova série e também novo espaço para a música no Rio - na quinta-feira, dia 13, às 19h30. Este primeiro concerto, excepcionalmente, terá entrada gratuita, com inscrições pelo site www.firjan.com.br/casafirjan. Nos seguintes, os ingressos serão populares (R$ 10). A série tem programados mais quatro concertos até o fim do ano, com a curadoria do compositor João Guilherme Ripper.
Nascido em Diadema, São Paulo, filho de romenos, Cristian Budu revelou muito cedo seu talento, tocando Beethoven de ouvido no piano que o pai dedilhava. Aperfeiçoou-se na USP, com Eduardo Monteiro, e foi bolsista laureado no New England Conservatory, em Boston (para onde retornou para o programa Artist Diploma). Ganhou diversos concursos nacionais (Prelúdio, concurso Nelson Freire) e projetou-se internacionalmente ao vencer o prestigiosíssimo Concurso Clara Haskil, na Suíça – o único brasileiro vencedor na história da competição, que laureou nomes como Richard Goode, Christoph Eschenbach, Mitsuko Uchida e Evgeni Korolyov. Detalhe: o Clara Haskil premia apenas um concorrente – às vezes, nenhum. Budu recebeu ainda dois prêmios nessa edição, incluindo o do público.
Desde a estada em Boston, Cristian se dedica também a saraus em residências, numa forma de reunir músicos para tocar em pequenos grupos. A partir dessa experiência, criou no Brasil o projeto Pianosofia, que congrega músicos em ensaios coletivos para fazer música de câmera nas residências. “Fazer música de câmera é uma alegria para o ouvinte e mais ainda para o músico, que passa a tocar e ao mesmo tempo ouvir em sintonia fina com o outro músico. E acordamos muitos pianos mudos nas casas”, diz Budu.
Para o concerto carioca, Budu escolheu duas peças que são, por assim dizer, coletâneas de momentos, compostas por Robert Schumann (1810-1856) e Fréderic Chopin (1810-1849). Kreisleriana (escrita em 1838), de Schumann, reúne oito movimentos; os Prelúdios, de Chopin, enfileiram 24 miniaturas, cada uma delas numa tonalidade. As duas peças – que Budu considera seus carros-chefe – percorrem alternadamente estados de espírito de luz e sombra, esperança e medo; as diferentes atmosferas estão refletidas em cada peça da Kreisleriana de Schumann e no arco estrutural dos Prelúdios.
“Robert Schumann tinha um emocional bipolar e reflete essa montanha-russa na peça, batizada em homenagem ao personagem do escritor alemão E.T.A. Hoffmann, o músico Johann Kreisler”, explica o pianista. “Já Chopin começou a compor os Prelúdios num momento de doença, de se ver entre a vida e a morte. À alegria se segue uma peça muito fúnebre, por exemplo”.
Arquitetura, patrimônio e música de concerto
“A associação de música de concerto e arquitetura é adotada em todo o mundo como estratégia de promoção da música de concerto e valorização do patrimônio histórico”, lembra João Guilherme Ripper, curador da série de concertos. A Casa Firjan, inaugurada dia 3 de agosto, é o antigo Palacete Linneo de Paula Machado, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, adquirida pela Firjan em 2011 e restaurada com extremo cuidado.
A Casa transformou-se, assim, de residência elegante de uma das famílias mais conhecidas do Brasil em centro de atividades culturais e de formação e pesquisa na inovação tecnológica da indústria criativa. Além do ambiente histórico, o espaço conta com um anexo em estilo contemporâneo, projetado pelo arquiteto André Lompreta de Oliveira. A edificação produz, ao mesmo tempo, integração dos espaços e um espetacular contraste com o casarão de 1913. Música, exposições, instalações, palestras, workshops, espaço para treinamento e para pesquisa são atividades programadas.
A Casa Firjan tem um modelo de atuação diversificado com o objetivo único de refletir, criar e entregar soluções para os desafios da nova economia. Como um centro de inovação e empreendedorismo, ela integra uma programação de palestras, laboratórios de tendências e cursos a um ambiente de debate e elaboração de políticas públicas, que contempla ainda uma programação de atividades culturais.
Em um terreno de 10 mil m², na rua Guilhermina Guinle, a Casa Firjan abriga um novo prédio, de arquitetura contemporânea e premiada, e um patrimônio histórico restaurado, que inclui uma casa principal e duas casas geminadas construídas no início do século XX. A visitação continua gratuita durante o mês de setembro e depois em todas as terças-feiras do ano.
Nas salas de estar e jantar serão oferecidos cinco concertos até dezembro deste ano. A série abriga música de concerto, jazz, música brasileira instrumental e crossover.
Programação 2018
18/10 – Quinteto Villa-Lobos
8/11 – Jean-Louis Steuerman, piano - Felipe Prazeres, violino – Marco Catto, viola – Marcus Ribeiro, violoncelo
22/11 – Leo Gandelman Quarteto
6/12 – Orquestra Johann Sebastian Rio
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