Carlos Motta
O baiano Assis Valente, que se suicidou aos 46 anos de idade, em 1958, é autor de algumas das mais belas canções da música popular brasileira. São dele os deliciosos sambas "Camisa Listrada", "Brasil Pandeiro", "Uva de Caminhão" e "Fez Bobagem", e a marcha natalina "Boas Festas", uma obra-prima com versos capazes de amolecer o mais empedernido coração:
"Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem"
Valente compôs ainda um samba que trata de um tema perene, as profecias sobre o fim do mundo, regravado inúmeras vezes.
"E o Mundo Não se Acabou" foi lançado em 1938, há exatos 80 anos, portanto.
Continua atual, principalmente nestes dias em que as crenças de que um cataclisma não se abaterá sobre o planeta são abaladas pelo esforço que o ser humano faz para destruir a si próprio - esforço, no caso brasileiro, redobrado.
https://www.youtube.com/watch?v=5GxA4Elbx80
Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar
Por causa disso
Minha gente lá de casa
Começou a rezar
E até disseram que o sol
Ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando
De aproveitar
Beijei a boca
De quem não devia
Peguei na mão
De quem não conhecia
Dancei um samba
Em traje de maiô
E o tal do mundo
Não se acabou
Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar
Por causa disso
Minha gente lá de casa
Começou a rezar
E até disseram que o sol
Ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez batucada
Chamei um gajo
Com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora eu soube
Que o gajo anda
Dizendo coisa
Que não se passou
E, vai ter barulho
E vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou
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