Carlos Motta
O Brasil ficou mais pobre, artística e culturalmente, com a morte de Dona Ivone Lara segunda-feira, 16 de abril, aos 97 anos completados três dias antes.
Escrever sobre a imensa e incomparável obra dessa extraordinária compositora e cantora é desnecessário.
Há artistas que dispensam as palavras para louvá-los - seu talento fala por si.
Dona Ivone Lara há muito tempo era uma instituição, uma frondosa e altiva árvore, generosa em frutos, saborosos e opulentos.
Em sua maravilhosa carreira, Dona Ivone Lara firmou inúmeras parcerias com outros craques, mas foi com Delcio Carvalho que trabalhou mais. Pertencem à dupla inúmeras canções que se tornaram clássicos da música popular brasileira: "Acreditar", "Sonho Meu", "Alvorecer", "Minha Verdade" e "Doces Recordações" são apenas algumas dessas pérolas.
Mestre Ariano Suassuna lembrava, sempre que podia, que outro grande brasileiro, Machado de Assis, dividia o país em dois: o real e o oficial.
O Brasil real é esse que se expressa na criatividade, na força e na persistência do seu povo. O oficial é aquele caricato que frequenta os salões e se esconde em gabinetes bem mobiliados.
Dona Ivone Lara personifica o Brasil real, essa nação que, contra todas as probabilidades, produziu, produz e produzirá, gênios em todas as áreas da atividade humana.
Ainda bem que Dona Ivone Lara teve, em vida, o reconhecimento merecido. Como nesse lindo samba de Claudio Jorge e Nei Lopes, "Senhora da Canção".
Uma música como essa vale muito mais que qualquer discurso de algum representante do Brasil oficial.
Viva o samba, viva a rainha do samba, viva a grande dama do samba, viva para sempre a senhora da canção!
Lá vou eu que bom subindo outra vez
O domingo está tinindo e assim eu sei
Que os canários, tangarás e os rouxinóis.
Já afinaram os gogos
Só falta minha voz somando
Lá vou eu pra onde o samba manda ver
Que os canários, tangarás e os rouxinóis.
Já afinaram os gogos
Só falta minha voz somando
Lá vou eu pra onde o samba manda ver
Sem confeito bem do jeito que Deus fez
Ouvir reais melodias
Imperiais harmonias
Dissonâncias não têm vez
Beber de um gole a poesia
Me embriagar de alegria
Na mais pura lucidez
Ivone lara ra ra ra ra ra
Perola rara no compor e no cantar
Senhora da canção doce instrumento
Pastora da emoção, do sentimento.
Ivone lara ra ra ra
Tudo se aclara sobre a luz do teu luar
Lavando a nossa alma
Com a mais fina inspiração
Meu samba de pega na palma
E beija sua mão
Ouvir reais melodias
Imperiais harmonias
Dissonâncias não têm vez
Beber de um gole a poesia
Me embriagar de alegria
Na mais pura lucidez
Ivone lara ra ra ra ra ra
Perola rara no compor e no cantar
Senhora da canção doce instrumento
Pastora da emoção, do sentimento.
Ivone lara ra ra ra
Tudo se aclara sobre a luz do teu luar
Lavando a nossa alma
Com a mais fina inspiração
Meu samba de pega na palma
E beija sua mão
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