“Até quando as fogueiras reais ou simplesmente morais (estas não menos cruéis) serão usadas para eliminar aqueles que teimam em fazer uso da liberdade de pensamento?”, questiona o dramaturgo Dias Gomes na peça "O Santo Inquérito", escrita em 1966, mas com atualidade facilmente verificável. Nesse espírito de resgate de sua obra sob a óptica do caráter nacional-popular, Iná Camargo Costa traz a lume seu "Dias Gomes: um dramaturgo nacional-popular", lançamento da Editora Unesp.
Gestado há 30 anos na Unesp e apresentado e defendido como dissertação de mestrado no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), o livro “permite ao leitor ter acesso a um vasto material e constatar que não se pode compreender o teatro atual sem passar pela experiência épica do teatro brasileiro e internacional, no século XX”, anota Ana Portich, professora do Departamento de Filosofia da Unesp de Marília que assina o prefácio.
“O professor Fernando Novais costuma dizer que, se em um texto houver alguma coisa que pode ser renegada cinco anos depois, então ele nem deveria ter sido escrito”, escreve a autora. “Adepta desse critério, autorizei com alguma surpresa a publicação de um texto de quase 30 anos porque ao longo desse tempo não apenas continuo sustentando as teses nele presentes como acredito tê-las no máximo desenvolvido em sentido argumentativo, de modo a apontar para as contradições, inclusive estéticas, que o teatro como mercadoria da esfera cultural é obrigado a enfrentar.”
O texto se divide em quatro capítulos, nos quais Iná se dedica à trajetória de Dias Gomes, ao lado de uma análise rica e completa de um conjunto específico das suas peças sob o prisma da obra crítica de Antonio Candido (de modo especial, "Formação da literatura brasileira"). Esse enfoque amplia o conhecimento do teatro moderno no Brasil e de seu contexto histórico, colocando Dias Gomes em uma perspectiva que ultrapassa sua obra, levando a situações, pensamentos, realidades e opiniões que ajudaram a compor o próprio imaginário contemporâneo sobre o Brasil.
“Nesses 30 anos muita coisa mudou no panorama da pesquisa no campo das artes cênicas, mas acredito que a publicação deste trabalho pode contribuir para a percepção de que ainda estamos longe de poder dizer que a análise dialética do texto teatral faz parte do repertório da crítica no Brasil”, aponta Iná. “Se essa expectativa se verificar, darei por cumprida a minha tarefa.”
Iná Camargo Costa é professora aposentada do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo e foi também professora do Departamento de Filosofia da Unesp-Marília. Toda a sua pesquisa é dedicada ao exame das relações entre teatro e política.
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