A 6ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup), iniciada na sexta-feira (10) à noite, na comunidade do Vidigal, em São Conrado, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, homenageia o dramaturgo e ator Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha (foto), fundador do Centro Popular de Cultura, órgão cultural da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Grupo Opinião.
Para Júlio Ludemir, um dos idealizadores da Flup, o festival chegou à maturidade, o que permite dialogar com uma grande gama de atores e internacionalizar o evento, de forma a poder trazer entre 40 e 50 autores a cada ano. “Como programação, ela está cada vez mais madura também. A gente entende cada vez melhor o que quer fazer”, disse.
Nesta edição, a organização da festa traz o poeta Saul Williams, conhecido como o maior nome da poesia falada do mundo e o escritor e ativista transgênero Sam Bourcier que, no momento, é um dos principais pensadores da questão queer (teoria que afirma que a orientação sexual e a identidade sexual ou de gênero dos indivíduos são o resultado de uma construção social), entre outros autores. A Flup se encerra no dia 15 deste mês.
O evento busca dialogar com os 100 anos da Revolução Russa e os 50 anos de Maio de 1968 trazendo essas discussões para o “cotidiano periférico”. “Acho que a gente conseguiu alinhavar muito bem a ideia de revolução, que pauta a Flup”, disse Ludemir. Os dois movimentos são incorporados à ideia não só de periferia territorial e econômica, mas de uma periferia existencial que permita, por exemplo, discutir a perseguição à liberdade sexual, que voltou com toda a força, e a perseguição, com racismo embutido, aos terreiros”, afirmou Ludemir.
Segundo ele, o Brasil está vivendo um momento delicado do ponto de vista da liberdade de expressão. “Precisamos, no ambiente popular, em uma favela, afirmar a necessidade de liberdade em todos os campos da vida.”
Ludemir destacou que o homenageado desta sexta edição da Flup, o ator e dramaturgo Vianinha, foi um dos autores teatrais mais importantes da virada da década de 1960, em que a ideia de revolução era muito mais presente na sociedade do que hoje em dia. O Centro Popular de Cultura, que Vianinha ajudou a fundar, visava trazer grandes mudanças para o país por intermédio da poesia, da arte, do teatro e do cinema. “Isso deixou um legado extraordinário para o país”, destacou.
Vianinha participou, como ator, do filme "Cinco Vezes Favela", que revelou cineastas como Arnaldo Jabor e Cacá Diegues e teve grande importância no Vidigal, porque dois dos seus cinco episódios foram filmados por diretores daquela comunidade: Luciano Vidigal e Luciana Bezerra. “Quando a gente homenageia Vianinha, está indiretamente homenageando o Vidigal e o grupo Nós do Morro, do Gutti Fraga”, lembrou Ludemir.
Nascido em São Paulo, em 1936, Vianinha morreu aos 38 anos de idade, no Rio de Janeiro, sem ver encenadas duas obras censuradas pela ditadura militar: "Papa Highirte", escrita em 1968 e só montada 11 anos depois, e "Rasga Coração", cujas últimas páginas foram ditadas no leito de morte.
A Flup busca estimular a leitura por parte de crianças e faz trabalhos em escolas. Com esse objetivo, foi criada a Gincana Literária, que está se transformando agora na Gincana da Memória. “A gente está fazendo com que as crianças usem a leitura para descobrir o lugar no qual moram.”
O Vidigal foi dividido em cinco áreas para a Flup. Nesses locais, os organizadores da festa conversaram com os antigos moradores, que resistiram à ideia de remoção das favelas da Zona Sul, encerrada na década de 1980, com a visita do papa João Paulo II ao Vidigal. “A gente está apresentando toda essa história dos avós, dos pais, para essas crianças, sempre no sentido de valorizar a comunidade na qual a gente está." (Agência Brasil)
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