Carlos Motta
Nesta terra todos sabem de tudo todo o tempo, acham que cada achado que acham é um primor e consideram o considerado o mais acabado babado.
O brasileiro, sem querer, é doutor em tudo.
Ele tem total convicção, pode discorrer horas sem parar sobre verdades incontestáveis como a que atesta que o mundo é plano, que foi criado em seis dias, que Deus comanda as ações de cada um dos bilhões de habitantes humanos, e que se o dízimo for pago pontualmente, seu lugar no paraíso estará garantido e, melhor, sua vida terrena será confortável, até mesmo luxuosa.
Os convictos são tantos que se atropelam nas ruas, nas casas, nos escritórios, nas fábricas - nas redes sociais, então, nem se fala!
Há convicções de toda espécie.
Uns acham que tudo estará melhor se todos nós saíssemos disparando balas do mais grosso calibre nos desafetos, adversários, inimigos, sujeitos antipáticos ou faladores, palmeirenses ou corintianos, homossexuais e negros e comunistas e gordos e magros.
O mundo sem essa gente estaria muito melhor para quem tem essas convicções.
Outros não guardam tanto ódio nos seus corações.
Ou não o expressam assim tão abertamente.
Esses têm convicções sutis, porém fortes, inabaláveis.
Estão convictos de que o mal supremo da sociedade é a corrupção.
E, portanto, tratam de combatê-la com suas convicções emanadas das esferas superiores, tão altas e intangíveis que se confundem com o divino.
De posse de tais convicções, estão certos de que nunca erram, nunca erraram e nunca errarão nos julgamentos que fazem daqueles que levam a marca intolerável - que só eles têm a capacidade de ver - dos malignos e dos abomináveis.
Para esses, os convictos reservam punições mais que exemplares, mais que severas - punições absolutas.
Com tantas convicções à flor da terra, é justo dizer que este é um país que vai para a frente.
Seu destino, a cada convicção nova que surge, a cada velha e arraigada convicção que se proclama em alto e estridente som, é marchar para um futuro radiante, onde todos estarão convictos de que nenhum problema, nenhuma patologia, nenhum contratempo, grande ou pequeno, deixará de ser superado pela força do pensamento positivo, da oração, do trabalho, da meritocracia, do empreendedorismo, do Estado mínimo, da família, do direito à propriedade, do Domingão do Faustão, do Jornal Nacional, da Veja, de O Globo, da Folha de S. Paulo, e, é claro, dos homens de bem.
Fé em Deus e pé na tábua!
Pois eu estou convicto, que a solução para o Brasil, é mandar todos os convictos pra puta que os pariu. Inclusive eu também??? Bem, aí eu tenho minhas dúvidas. Desculpe pela falta de convicção.
ResponderExcluir