O prefeito, a empatia, e a ração dos pobres


Carlos Motta

O prefeito paulistano é movido a marketing.

Cuida com extremo zelo de sua imagem física - beirando os 60 anos, tenta parecer um meninão de 30.

Utiliza as novas tecnologias, principalmente as redes sociais, com desenvoltura.

É veterano no manejo televisivo.

Com tudo isso a seu favor, deveria estar, como dizem, "voando" no comando da prefeitura da metrópole.

Mas o que ocorre é justamente o contrário: a cada dia, apontam as pesquisas, a decepção com o seu governo cresce.

Da mesma forma, aumenta a percepção de que o cargo que ocupa é apenas um trampolim para que salte nas águas incertas da disputa presidencial de 2018 - se ela ocorrer.

E, em meio a isso tudo, fica cada vez mais visível que falta a ele não só a experiência necessária para sobreviver no ambiente da política real, mas um componente essencial para qualquer pessoa que pretenda ter sucesso na carreira de homem público: ele não tem nenhuma preocupação social, nenhuma empatia com os desprotegidos, os mas fracos, essa enorme parcela da população que vive no limite da sobrevivência.

É muito estranho que um homem com a sua formação educacional fale, publicamente, tanta bobagem, e proponha e adote medidas absolutamente imbecis, como essa última de transformar restos de comida em ração para os pobres.

Pessoas normais não dizem ou fazem o que diz e faz o prefeito paulistano. 

Há certos mecanismos no cérebro que impedem, por exemplo, uma autoridade, em vez de responder a uma crítica, afirmar que quem a fez é "velho", como se a velhice fosse algo que depreciasse o ser humano.

O seu caso parece ser sério, denota, ao menos ao leigo, alguma patologia.

Se nada de extraordinário acontecer, o prefeito paulistano deverá concorrer ao cargo de presidente da república tendo como um dos adversários o deputado neofascista admirador da tortura e que acha que os problemas do país serão resolvidos a partir do momento em que os "homens de bem" estiverem armados.

É de se estranhar que eles não se juntem numa chapa que refletiria à perfeição um segmento da sociedade que não acompanhou o processo civilizatório e os tempos sombrios e esquizofrênicos que vive o Brasil pós-golpe.

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