O Brasil tem hoje um número de ótimos instrumentistas inversamente proporcional ao de políticos e autoridades que verdadeiramente se dedicam ao serviço público.
Parece que os jovens - e mesmo as pessoas de mais idade - estão procurando alguma forma de se distanciar da realidade, triste, suja, quase insuportável, que afronta a vida de cada um.
A arte, em geral, é uma fuga deste mundo que nos oprime - o artista não só busca retratar, a seu modo, a sua existência, mas pretende construir, seja com cores, letras ou sons, um universo particular onde possa se refugiar das misérias do dia a dia.
A música popular, especialmente, de alguns anos para cá, tem abrigado uma extraordinária safra de artistas, seja compositores, seja instrumentistas, que, por motivos óbvios, é desprezada pelos meios de comunicação de massa, ou, como queiram, pela indústria cultural - no caso brasileiro, muito mais indústria de entretenimento.
Essa exuberância se dá em todos os gêneros musicais, desde o samba, o mais executado e conhecido, até outros de difícil classificação - o que dizer das dezenas de "filhotes" do mago Hermeto Pascoal, do gênio Egberto Gismonti, ou dos chorões dos velhos tempos, que, em síntese, simplesmente misturam tudo e mandam ver?
Se a receita é antiga - afinal, muitos músicos, no mundo todo, já juntaram estilos diversos para formar o seu, único -, no caso brasileiro se pode dizer que da geleia geral que vem se solidificando nas últimas décadas está nascendo, se já não nasceu, uma das mais originais manifestações musicais do planeta.
Na semana passada, em Piracicaba, interior paulista, o Festival de Jazz Manouche mostrou um pouco dessa nova música: seus participantes não se limitaram a tocar o estilo criado por Django Reinhardt. Vários deles utilizaram a música brasileira - samba, choro, baião... - como base para o exercício de sua criatividade, aproveitando a característica do jazz cigano de usar e abusar da improvisação.
Um dos mais destacados foi Marcelo Cigano, acordeonista nascido em uma família cigana, que começou a tocar aos oito anos de Idade influenciado pelo seu pai, também acordeonista. Marcelo é um virtuose autodidata que passeia com extrema facilidade por diversos gêneros musicais - samba, choro, forró, bossa nova, tango ou jazz.
É um colecionador de prêmios. Em 2008 ganhou o 2º Concurso Internacional de Acordeão, promovido pela Associação dos Acordeonistas do Brasil, e em 2010 venceu o Festival Roland de Acordeão, indo representar o Brasil na final mundial do 4º Festival Roland, em Roma. No mesmo ano participou da 63ª Coupe Mondiale, se apresentando no estande da Roland com Ludovic Beier. Desse encontro nasceu uma parceria que resultou em uma série de shows no Teatro Paiol, em Curitiba, em fevereiro de 2014, e um projeto para futuros Intercâmbios musicais entre Brasil e França.
Em 2014 Marcelo Cigano lançou o CD "Influência do Jazz ", com direção musical de Oliver Pellet e participações especiais de Hermeto Pascoal, Toninho Ferragutti, Lea Freire e Thiago Espírito Santo, entre outros. Cada faixa exemplifica a rica música instrumental que se faz no Brasil e a excelência de seus intérpretes.
Outro CD notável de Marcelo é o gravado ao vivo no Teatro Paiol com o Jazz Cigano Quinteto, intitulado Gypsy Night Riat Romani, que reúne clássicos do gênero.
Atualmente ele prepara o repertório de mais um disco. Entre as músicas estarão "Pra Nós 2", de Hermeto Pascoal, e "El Cigano", de Ludovic Beier, compostas em homenagem a Marcelo, um músico que, talvez inconscientemente, aplicou em sua arte a característica mais conhecida do povo do qual descende, o nomadismo: da mesma forma que seus ancestrais, Marcelo não se fixa num gênero musical, transita por vários com a intimidade de quem sabe que a música não tem fronteiras.
O trabalho de Marcelo Cigano pode ser ouvido e visto nos seguintes endereços:
gramofone.com.br/produto/marcelo cigano
www.facebook.com/musico.marcelo.cigano
www.youtube.com/channel/UC2UBSB7L7GyJCfm1X1g_7FQ
soundcloud.com/gramofone/sets/marcelo-cigano-influ-ncia-do
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