Carlos Motta
O Brasil é um país surpreendente.
Tem de tudo, basta procurar que se acha.
Seu caldo cultural é riquíssimo, uma mistura colorida de povos de caracteres díspares, que resultou numa monumental e maravilhosa confusão de sentimentos e ideias.
Em certas áreas é imbatível - o futebol, apesar dos 7 a 1 que tomou da Alemanha, as praias e o Carnaval não contam, da mesma forma que a vexaminosa desigualdade social.
A música popular, por exemplo, está no topo do ranking planetário das mais criativas, férteis, empolgantes e admiradas.
Se o samba é um dos maiores fatores de unificação nacional, tocado e cantado em todos os cantos do país, outros ritmos, como o chorinho, também são conhecidos por praticamente todos os brasileiros.
A cada geração surgem músicos mais talentosos e estudiosos, que ganham plateias internacionais de maneira natural, unicamente por força de seu trabalho.
Parece que a música está no gene de cada um que nasce no Brasil.
Para algumas pessoas se transforma numa paixão arrebatadora.
É o caso do juiz de direito José Fernando Seifarth de Freitas, que idealizou e promove, na raça, anualmente, o Festival de Jazz Manouche de Piracicaba, que, no sábado, 21 de outubro, mostrou, no palco externo do Teatro Erotídes de Campos, no Engenho Central, em Piracicaba, interior de São Paulo, durante 4 horas e meia, uma performance extraordinária de bambas, nacionais e internacionais.
Para quem não sabe, o jazz manouche, ou jazz cigano, é aquele que bebe da mistura que o lendário violonista Django Reinhardt fez do jazz de New Orleans com a música de seu povo, lá na década de 30 do século passado.
O gênero se consolidou com o quinteto que Django formou para se apresentar no Hot Club de Paris, no qual se destacava, além dele, o violinista Stéphane Grappelli - hoje tem milhões de fãs e milhares de executantes em todo o mundo.
Piracicaba, graças ao festival, que está em sua quinta edição, e ao pessoal do Hot Club local, é considerada a capital do jazz manouche brasileiro.
No sábado, além dos músicos da cidade, Fernando Seifarth incluído - ele é um violonista dos bons -, se revezaram no palco, entre os estrangeiros, Robin Nolan, Dario Napoli, Walter Coronda, Sebastian Abuter e Rudi Bado, e entre os brasileiros, Gilberto de Syllos, o incrível Bina Coquet, Marcelo Cigano, Tadeu Romano, Mauro Albert, Ernani Teixeira, Flavio Nunes e a cantora Patrícia Moreno.
Um time de virtuoses.
O festival se estendeu a várias jam sessions em bares da cidade, e ao palco do Sesc local.
Fernando Seifarth que fez as vezes de apresentador das atrações, definiu, sucintamente, o que é para ele o evento, depois de agradecer a extensa lista de apoiadores, desde a padaria que forneceu o lanche para os artistas até a prefeitura que cedeu o local dos shows: "Todo ano, assim que acaba o festival eu penso 'este vai ser o último que farei', para logo em seguida começar a organizar o próximo."
E assim, entre sábios e loucos, entre o desprezo dos poderosos e a dedicação dos pequenos, caminha, aos trancos e barrancos, o Brasil, esta terra em que, como disse o primeiro cronista, se plantando tudo dá.
P.S.: O contrabaixista Gilberto de Syllos, o "seo Manouche", e o violonista Bina Coquet, lançaram recentemente discos nos quais, seguindo a tradição de monstros sagrados do gênero, como o inacreditável Jimmy Rosenberg, usam e abusam da música brasileira como base para as estrepolias sonoras do delicioso jazz cigano. É ouvir para crer!
Barrabas! Só tem fera! Espero que os golpistas, imcompetentes como eles só, um dia morram de inveja diante de tanto talento que existe no Pais. Belo castigo!
ResponderExcluirMuito obrigado pela bela matéria sobre o festival.
ResponderExcluirEu é que agradeço a direção do festival, seus músicos e todo o pessoal que trabalhou para fazer dele um evento notável. E fico à disposição para divulgar as atividades do Hot Club de Piracicaba. Abraço!
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