Lá pelo fim dos anos 60, começo dos 70, do século passado, na modorrenta Jundiaí, cidade no meio do caminho entre São Paulo e Campinas, eu e minha irmã estudávamos na melhor escola particular de inglês que existia por lá, o Yázigi.
Certo dia fomos informados que, nas férias de julho, a escola pretendia levar uma turma para passar duas semanas nos Estados Unidos, acho que em Miami, já naquela época sonho de consumo da classe média brasileira.
Oferecia condições de pagamento facilitadas, era uma oportunidade e tanto para nós dois fazermos uma viagem da qual, certamente, nos lembraríamos pelo resto de nossas vidas.
Mas o capitão Accioly e a dona Vilma, nossos pais, frustraram os planos de passar férias nos States - uma viagem dessas estava além do orçamento da família.
Em troca, para compensar a nossa frustração, sugeriram que fôssemos visitar nossos parentes em Maceió.
Essa sim, foi uma viagem inesquecível, dois dias de ida, dois de volta, no melhor ônibus leito da época, com ar-condicionado, poltronas de veludo, um luxo só.
Passamos um mês maravilhoso nas casas de nossa avó paterna e de um de nossos tios, que nos receberam com o todo o carinho e apreço que marcam a alma do nordestino.
Os Estados Unidos ficaram para trás, esquecidos por nós.
Grande parte dos brasileiros, porém, dorme, acorda e sonha todos os dias com esse grande país do hemisfério norte, superpotência incontestável, arrebatadora de mentes e corações de todos os viventes deste miserável planeta.
No ano passado, auge das manifestações contra a presidenta Dilma, várias fotos de pobres meninas ricas, segurando cartazes culpando os petralhas por não poderem ir mais para o mundo de fantasia criado pela The Walt Disney Company, circularam freneticamente em redes sociais e portais da internet.
Pouco mais de um ano de Brasil Novo foi o suficiente para perceber que o dólar continua ali na faixa dos R$ 3, os pacotes para visitar o paraíso não baixaram de preço, e, pesadelo dos pesadelos, nem passaportes mais estão sendo emitidos para os brasileiros que ainda têm reservas que permitam fazer viagens desse tipo.
A Polícia Federal, que tanto ajudou a derrubar o governo trabalhista, avisa que está sem dinheiro para providenciar o documento - é bem provável que tenha gastado tudo nessa perseguição sem fim ao ex-presidente Lula...
Esse, certamente, é um problema pequeno em relação a tantos outros criados para o futuro do país por esse pessoal que se apoderou do Palácio do Planalto.
Mas não deixa de ser emblemático, já que atinge uma parcela da sociedade que apoiou entusiasticamente o golpe.
Parece pouco impedir uma viagem aos Estados Unidos.
Não tenho certeza, porém, que esse pessoal vá se contentar em passar as férias na linda Maceió ou em outro lugar maravilhoso qualquer deste Brasil que tanto odeiam. (Carlos Motta)
Não. Miami não pode. Vai pro Uruguai fumar maconha, e olhe lá! Pobres coxinhas sem destino.
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