O jogador do Palmeiras Felipe Melo saiu jovem do Brasil e rodou por vários clubes europeus, tendo retornado ao seu país há poucos meses. Já se meteu em várias confusões nos campos, o que não o impediu de até integrar a seleção brasileira. Outra característica de sua personalidade é sua língua solta: boquirroto, quase sempre confunde sinceridade com ofensas.
Melo tem salário de cerca de R$ 500 mil mensais e, portanto, ocupa o topo da pirâmide social, faz parte do 1% dos mais ricos, a elite econômica do Brasil, essa que nada de braçadas na crise que já desempregou 14 milhões de trabalhadores.
Nascido na pobreza, ele tem pouca escolaridade, e seu sucesso pode servir como propaganda da tão propalada "meritocracia", o método celebrado pelos neoliberais como o mais justo para se destacar em nossa sociedade.
Certa vez, numa entrevista a uma emissora italiana de televisão, Melo resumiu sua vida:
- Se eu não fosse jogador, teria sido um assassino. Vivia em uma das favelas mais perigosas e ali havia drogas e armas. Deixei aquela vida para seguir meu sonho. Às vezes ia ao treinamento e, na volta, algum amigo meu estava morto. Tinha que dizer sim ao futebol ou a uma vida ruim. E disse sim ao futebol e a uma vida diferente.
Como se vê, Melo é um sujeito determinado e que sabe o que quer.
E talvez por ter sido criado num ambiente violento, de miséria e sujeira, onde certamente 99,9% de seus amigos de infância não conseguiram se livrar da pobreza, ele vê o mundo em preto e branco, dividido entre aqueles que, como ele, por vários motivos, progrediram, e os que ficaram no mesmo lugar, empacados, sem perspectiva nenhuma a não ser sobreviver no dia a dia.
Nessa segunda-feira, dia do trabalhador, Melo, em mais um de seus ataques de boquirrotismo, expressou aquilo que pensa parcela da população sobre a data e sobre o presente e o futuro do Brasil, de forma seca e crua, como é de seu feitio:
- Posso falar uma coisinha? Deus abençoe todos os trabalhadores e pau nos vagabundos. Bolsonaro neles!
É isso.
É esse o retrato do Brasil de hoje: um país dividido entre os "trabalhadores" e os "vagabundos" e cuja esperança de dias melhores, para muitos, reside num político de extrema-direita sem nenhum programa de governo a não ser a apologia da violência como meio de resolver todos os problemas.
Felipe Melo não poderia ter sido mais didático no resumo de como o fascismo se alastrou no corpo social do país.
E de como é necessário parar de encará-lo como apenas um sintoma de uma sociedade doente e não uma das causas dessa doença. (Carlos Motta)
Facistolândia. Terra dos "repolhos".
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