Arte é política, palco é palanque


Os artistas que vão participar do ato pró-diretas deste domingo, 4 de junho, na capital paulista, informam os jornalões, não querem a participação de representantes de partidos políticos e movimentos sociais na manifestação.

Alegam que dessa forma o movimento pode ganhar mais adesão popular, incorporando gente que acha o vermelho a cor do diabo.

No domingo passado, balões e bandeiras da CUT e PT foram vetados no ato que reuniu mais de 100 mil pessoas em Copacabana. 

Interessante essa posição dos artistas.


Inaugura uma nova forma de fazer arte, pois afinal toda arte, mesmo aquela que diga que não, carrega em si uma atitude política.

O  famosíssimo verso "uma rosa é uma rosa é uma rosa" parece, à primeira vista, a negação dessa afirmação. 

Mas ao dizer, com tanta ênfase, que uma rosa é apenas uma rosa, Gertrude Stein, a autora do verso, não estaria fazendo política, no sentido de delimitar o papel da poesia na sociedade, no caso reduzindo a definição da flor à botânica, sem levar em conta a sua associação à beleza, perfumes, alegria, ou coisa que o valha?

O termo política, como se sabe, nasceu na Grécia antiga, e foi adquirindo, ao longo dos séculos, inúmeros significados.

Hoje há política para tudo e em tudo, embora muita gente ache que ela seja tão somente a máscara que homens corruptos usam para exercer suas atividades criminosas, e ela esteja restrita aos ambientes muitas vezes insalubres de partidos, parlamentos e gabinetes atapetados e refrigerados.

O ato pró-diretas deste domingo é eminentemente político, conte ou não com artistas, queiram ou não os artistas.

Proibir quem rotineiramente faz da política uma atividade de transformação da sociedade, seja por meio de um partido, sindicato, organização de classe ou da sociedade civil, não é só uma demonstração de falta de conhecimentos históricos ou sociológicos.

É também ignorância do próprio papel do artista.

O palco, por mais mambembe que seja, é antes de mais nada, uma tribuna, que aceita qualquer tipo de manifestação, desde as mais piegas e reacionárias até as mais libertárias e vanguardistas.

Mas todas, sem exceção, políticas. (Carlos Motta)

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