Anos atrás, um amigo, jornalista dos bons, criativo e empreendedor, mas que infelizmente não está mais entre nós, me telefonou para que passássemos a limpo as novidades.
Conversa vai, conversa vem, ele, que na época trabalhava como assessor da diretoria de uma grande cervejaria, se mostrou indignado com o alto nível de corrupção no Brasil - como se vê, essa história que hoje é o centro da discussão política no Brasil vem de longe.
E me contou uma historinha, da qual me recordo até hoje.
A empresa queria se expandir e buscava um local no Paraná para instalar sua nova fábrica. Mas, como todo mundo, estava atrás de algumas facilidades, isenções fiscais, essas coisas. E o seu manda-chuva resolveu ir a Brasília atrás de um deputado que lhe indicaram como sendo o homem certo para tocar o negócio.
- E lá fomos nós - disse o meu amigo. Chegamos ao escritório do deputado, entramos para falar com ele, e ele, nem bem escutou o nosso pedido já foi dizendo: "Olha, combinem tudo com o meu secretário. A gente acerta depois." Assim, na lata! É incrível como os nossos políticos são corruptos!
Foi aí, nesse momento da conversa, que interrompi esse meu meu camarada:
-Mas fulano, você não percebeu que vocês, nessa história, eram os corruptores, eram quem estavam dispostos a oferecer vantagens para o deputado facilitar as coisas para a empresa?
Depois dessa, passamos a falar de futebol.
Esse papo se deu bem antes de o Brasil virar essa republiqueta de Quinto Mundo, paraíso dos criminosos de colarinhos multicoloridos, pessoal que até outro dia atrás estava se refestelando na boa vida proporcionada pelos altíssimos salários pagos pelas ilibadas companhias em que trabalhavam.
Não sei se o meu amigo jornalista, se estivesse ainda entre nós, com tudo o que está ocorrendo, continuasse achando que só os políticos roubam e os empresários são uns coitados que têm de implorar aos nossos representantes legislativos favores para que seus negócios andem - favores que saem, como estamos vendo, muito caros.
Tenho certeza, porém, que esse meu amigo jornalista, se fosse novamente solicitado a acompanhar seu chefe numa missão dessas, arranjaria uma boa desculpa para não ir junto.
É que ele, algumas vezes, se mostrou ingênuo, mas de burro não tinha nada. (Carlos Motta)
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