A lista de Fachin provocou jorros de gozo em muita gente, incluindo os jornalões.
Até o momento, porém, poucos se deram ao trabalho de pensar em suas consequências para o fiapo de democracia que resta no Brasil.
Uma dessas pessoas é o jornalista Luis Nassif, que escreveu, em seu blog, dois textos interpretativos sobre o tema.
Os artigos, que se complementam, são ouro puro para quem deseja entender o que se passa no país atualmente e para onde ele caminha.
Óbvio que muitos podem discordar do jornalista e achar, por exemplo, que o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República vão, a partir da abertura dos inquéritos que atingem o sistema político como um todo, livrar o povo brasileiro da corrupção e levá-lo a um nível ético digno de uma Suécia.
Outros, porém, depois de ler a pensata de Nassif, devem se perguntar, fazendo coro ao jornalista, como foi possível que se permitisse - e até se festejasse - a destruição do Brasil.
Seguem os dois textos:
Xadrez da lista de Janot, o senhor do Tempo
A divulgação da lista de inquéritos autorizados pelo Ministro Luiz Fachin não significa que, enfim, a Lava Jato resolveu tratar as investigações com isonomia, que o pau que dá em Chico dá em Francisco.
O Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot continua dono absoluto do calendário. Através do controle do ritmo das investigações, ele decide monocraticamente quem vai e quem não vai ser condenado.
Durante três anos, toda a carga foi em cima do PT e, especialmente, de Lula. Em três anos de investigações, há cinco ações em andamento contra Lula, uma perseguição impiedosa que culminou com o vazamento, ontem, da suposta delação de Marcelo Odebrecht, sob as barbas do juiz Sérgio Moro e ele alegando a impossibilidade de identificar o vazador. Some-se a informação do procurador Deltan Dallagnol de que o único vazamento efetivo de informações foi para o blogueiro Eduardo Guimarães. O que significa que todas os demais vazamentos ocorreram sob controle estrito da Lava Jato.
Os 83 inquéritos misturam de tudo, de problemas formais de prestação de contas a suspeitas de manipulação de licitações. Independentemente da maior ou menor gravidade das acusações, todos passam à condição de suspeitos e/ou corruptos. Trata-se de uma tática tranquila, que criminaliza as pequenas infrações e dilui as grandes acusações.
Peça 2 – as circunstâncias em jogo
A caçada a Lula tem três pontos frágeis:
1. Até agora, ausência de uma prova palpável sequer contra ele.
2. A perseguição implacável contra Lula.
3. A seletividade das investigações, não investindo contra nenhum aliado do sistema.
Com a divulgação dos inquéritos, há duas intenções óbvias:
1. O sistema (não a Lava Jato) responde à acusação de seletividade, às vésperas do julgamento do alvo preferencial, Lula.
2. Ao mesmo tempo, mantém o governo Michel Temer refém.
A suposição de que a lista irá paralisar o mundo político provavelmente não será confirmada. Nas próximas semanas se verá uma aceleração dos trabalhos legislativos, visando aprovar o maior número de medidas antissociais, para garantir o pescoço.
Peça 3 – as consequências da lista
Com a lista de Janot, tenta-se resgatar a credibilidade perdida do sistema judicial, com a parcialidade e a seletividade gritantes da Lava Jato.
Levaram três anos para iniciar uma investigação contra Aécio, que era mencionado na primeira delação de Alberto Yousseff. Até hoje não iniciaram as investigações contra José Serra, apesar de um relatório sobre Paulo Preto estar na PGR desde março de 2015.
Com o estardalhaço de 83 inquéritos, passado o carnaval inicial, a PGR permanecerá dona do tempo. Acertará contas com Renan Calheiros e Fernando Collor, adiará indefinidamente os inquéritos contra seus aliados e terá às mãos a metralhadora, para apontar contra quem ousar enfrentar seus supremos poderes.
Os objetivos são óbvios:
1. Tentativa de inabilitar de Lula para 2018, agora sob o manto da isenção.
2. Vida tranquila para José Serra e Aécio Neves, que terão morte política natural, desde que deixaram a condição de grandes campeões brancos contra a ameaça Lula.
3. Congresso sob a mira dos inquéritos, deixando de lado qualquer veleidade de coibir abusos do MPF.
Xadrez da lista de Janot, o senhor do Tempo - 2
Ontem, minimizei aqui no Xadrez as consequências dessa lista de Janot. Não será apenas a tentativa de inviabilizar Lula em 2018. Significa a destruição da política.
Um dia ainda será escrita a maneira como o Brasil se permitiu destruir. Nunca a fábula do nazismo foi tão elucidativa.
Primeiro, levaram os petistas e peemedebistas suspeitos. Como eu não fiz nada – diria Dilma Rousseff – deixei o campo livre para o Ministério Público e a Polícia Federal, para resolver, por mim, os problemas do presidencialismo de coalisão.
Depois passaram a prender petistas a torto e a direito. Como eu não era petista – diria Fernando Henrique Cardoso – ajudei a colocar lenha na fogueira.
Depois, destruíram o setor mais dinâmico da economia. Como não eram grandes anunciantes – diriam os donos de jornais -, coloquei mais combustível na fogueira. E como brotou do pântano a ultradireita mais raivosa, abriguei-a em minhas páginas por uma questão de mercado.
Depois, espalharam o ódio por todos os poros da Nação. Como era ódio a favor – diriam Serra, Aécio, Aloysio – discursei em todos os eventos, eu também babando de ódio.
Agora, chega-se a isto, a lista de Janot, um dos episódios mais trágicos e irresponsáveis da história do país. Uma corporação tresloucada, sem controles, criminaliza praticamente todos os políticos do país, todos os partidos políticos, inclui cinco ex-presidentes, todas as lideranças civis ao menor indício de uma modalidade de financiamento de campanha que era generalizado.
O mais irresponsável jornalismo da história celebra o incêndio de Roma, estampando na cara o gozo dos completos ignorantes. O pior Supremo Tribunal Federal da história é incapaz de colocar limites a essa aventura.
Esperam o quê? Que das cinzas do sistema político-partidário brote uma nova política, virtuosa? A queda de Dilma Rousseff transformou o governo em uma praça pública de negociatas, porque derrubou o ponto aglutinador – o Executivo, mesmo que pessimamente conduzido – e entregou o poder a uma quadrilha.
Agora, o fim dos partidos vai acabar com o reinado dos atuais coronéis e colocar o quê em seu lugar? Uma malta de coronéis municipais, mais atrevida ainda, porque livre de qualquer vínculo programático, de qualquer sistema partidário de controle.
E o país será governado pela Rede Globo e por corporações públicas, com a destruição final das políticas sociais, o desmonte da Previdência, a criminalização da política e dos movimentos sociais.
Finalmente, chega-se na era do Grande Irmão. Mas como a política não foi substituída pelos robôs da quarta revolução industrial, pela frente haverá a guerra e o caos.
Enfim, a crocodilagem muito bem detalhada pelo Nassif, é exatamente o que se escancara para todos os que acompanham as manobras golpistas, desde a reeleição da Presidente Dilma. A curriola é grande e cheia de malandragens, com o objetivo de despistar o granfinale: a volta da ditadura. Fica a lição: não dá pra conviver com essa raça, com bons modos.
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