No dia 15 de março, mais de 200 mil pessoas se reuniram na Avenida Paulista, em São Paulo, para protestar contra as reformas do governo ilegítimo de Michel Temer, que punem os trabalhadores. Convocado pela CUT, frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, o ato teve seu ápice no discurso do ex-presidente Lula. Segundo os organizadores, mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas em todo o Brasil nessa data, quando houve paralisação de diversas categorias profissionais, inclusive metroviários e motoristas de ônibus em São Paulo.
No dia 26, manifestantes convocados pelo MBL e Vem Pra Rua, entre outros movimentos de direita, também foram às ruas protestar. Até o momento, os organizadores e a PM não divulgaram estimativa de público, mas quem esteve na Avenida Paulista, em São Paulo, não encontrou mais que 10 mil participantes em torno dos sete carros de som que disputaram o público com pautas variadas.
Em ambas as datas, o Núcleo de Estudos e Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo foi às ruas para acompanhar as manifestações. Assim como nos anos de 2015 e 2016, o objetivo foi traçar o perfil dos manifestantes e mapear suas principais demandas e opiniões em relação ao momento político e econômico atual, possibilitando uma análise comparativa com os atos de março dos anos anteriores.
Novamente, os resultados apontam para manifestações bastante distintas. A do campo progressista, identificada com o campo da esquerda e simpatizante do PT, teve perfil mais jovem e diversificado quanto à raça, com renda média familiar em torno de cinco salários mínimos e, dessa vez, com forte participação de funcionários públicos, ameaçados pelas perdas de direitos propostas nas reformas de Temer.
A do campo conservador, composta principalmente por homens, com idade mais avançada, maior participação de brancos e mais elitizada quanto à renda, identifica-se no espectro político com o centro e com o PSDB. O que conservam em comum politicamente é a preferência pela democracia sobre qualquer outro tipo de governo.
A reforma da Previdência foi a pauta que mobilizou 82% da manifestação do dia 15, enquanto a do dia 26 foi mais dispersa e genérica, com maior adesão ao combate à corrupção (61%), contra a reforma da Previdência (22%) e em apoio à Operação Lava Jato e à Polícia Federal (21%).
As redes sociais foram a principal forma de divulgação de ambos os protestos, liderados pelo Facebook, mas com participação de grupos de ação política como sindicatos e movimentos sociais, na convocação do dia 15, e de movimentos ligados à direita, como o MBL e o Vem pra Rua, no dia 26.
A corrupção é considerada o principal problema do Brasil por ambos os grupos (41%, entre os do dia 15, e 71%, entre os do dia 26), mas a política do governo atual e a educação foram problemas também levantados por quem esteve nas ruas no dia 15 (com 18% e 12%, respectivamente).
Comparando com cerca de dez anos atrás, a maioria dos entrevistados de ambos os protestos considera que o país está pior (69% e 68%). Porém, o campo popular tem percepção mais positiva de que sua vida melhorou nesse período (42%), contra 32% entre os mais conservadores, cuja maior parcela sente que sua vida pessoal piorou (46%, contra 39% dos progressistas).
Em ambos os estratos, a avaliação positiva do governo atual é baixa, não ultrapassa 13% entre os que foram as ruas dia 26. Quase a totalidade dos manifestantes do dia 15 (95%) considera o governo atual ruim ou péssimo, avaliação que também predomina entre os manifestantes do dia 26, com índices inferiores, mas ainda bastante elevados (49%).
Cerca de dois terços (62%) dos manifestantes do dia 15 perceberam aumento da inflação nos últimos dez meses, depois que Temer assumiu o governo, além de 29% dos que saíram no dia 26, cuja maior parte indica que a inflação diminuiu (42%, opinião compartilhada por apenas 10% do campo progressista). Ambos os grupos notaram o aumento do desemprego nesse período (86% entre manifestantes do dia 15 e 56% nos do dia 26).
As expectativas são negativas entre os manifestantes do dia 15, com 68% de percepção de que daqui para a frente a inflação vai aumentar e 77% de que o mesmo vai acontecer com o desemprego. Entre os manifestantes do dia 26, 39% compartilham essa opinião sobre o desemprego e 31% acham que a inflação vai nessa mesma direção.
A maioria dos manifestantes do campo popular (85%) acha que a situação do país piorou depois do golpe em que a presidenta Dilma foi destituída. No campo conservador, as opiniões se dividem, com 32% que acham que melhorou, 32% que piorou e 34% que não houve mudança. Para 51% dos manifestantes do dia 15, a vida pessoal piorou desde que Temer assumiu, opinião compartilhada com 26% dos manifestantes do dia 26, embora a maior parte destes não perceba mudanças (53%, 39% entre os manifestantes do dia 15).
Mais da metade dos que protestaram dia 15 (53%) acreditam que daqui para frente sua vida pessoal vai piorar, enquanto os convocados pelos movimentos de direita são mais otimistas e metade acredita que daqui pra frente sua vida pessoal vai melhorar.
A reforma da Previdência é rejeitada por 93% dos manifestantes do dia 15 e 60% dos que foram às ruas no último domingo. Entre esses, 64% afirmaram que serão pessoalmente prejudicados pela reforma, percepção que atinge 95% dos manifestantes do dia 15.
A reforma trabalhista é rejeitada por 84% dos que foram às ruas dia 15 e 87% deles acreditam que sua vida será prejudicada. Entre os que foram às ruas no dia 26, 43% são igualmente contra essa reforma e 47% sentem que serão prejudicados por ela. Índices idênticos aos dos que rejeitam a lei de terceirização, que prejudicará diretamente a vida de 80% dos manifestantes progressistas e 40% dos conservadores.
Já a reforma do ensino médio é rejeitada por 84% dos que se manifestaram no dia 15. Entre estes, 69% serão prejudicados pela reforma, enquanto entre os manifestantes do dia 26, 29% rejeitam essa reforma e 26% serão afetados por ela.
Por fim, a PEC do Teto de Gastos foi rejeitada por 79% dos que estavam nas ruas dia 15 e 29% dos manifestantes do dia 26, público em que sua aceitação chegou a 55%. Na opinião dos entrevistados, as principais áreas nas quais governo deveria reduzir gastos são os salários de políticos e parlamentares, mencionada por 35% dos manifestantes do dia 15 e 32% dos do dia 26; e cortes de gastos com a máquina pública, gastos de comissionados e cargos de confiança dos políticos, mencionados por 37% dos manifestantes do dia 26 e 15% dos do dia 15. Por outro lado, as áreas em que o governo mais deveria investir são educação (82% e 79%), saúde (72% e 70%), segurança pública (20% e 34%) e geração de emprego (18%, entre ambos). (Vilma Bokany, socióloga/Fundação Perseu Abramo)
Papagaio! Nunca vi um sujeito tão desprezível.
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