Pedro Tierra
As operações repressivas contra as ocupações de Escolas Públicas em vários Estados do País deixam clara a disposição do governo golpista de Michel Temer e dos governadores das unidades da federação que acionaram a polícia para reprimir a livre manifestação dos estudantes contra a PEC 241 (PEC 55) que tramita nesses dias no Senado da República: suspender objetivamente em cada uma das operações de desocupação das escolas as garantias fundamentais asseguradas pela Carta de 88. Se a PEC 55 é o instrumento jurídico para arrancar os pobres da disputa do orçamento público, a força policial é a mão armada do Estado para garantir a exclusão e impedir a manifestação dos setores populares alijados da disputa.
As operações policiais dissolvem, na prática, os contornos e as atribuições institucionais dos poderes constituídos, e, com eles, a noção básica de cidadãos portadores de direitos. Sob o estímulo do Poder Judiciário – engrenagem central do Golpe de Estado em curso – atuam para impedir a responsabilização do aparato repressivo pelos desmandos cometidos e denunciados.
O despacho do Juiz Alex Costa de Oliveira, da Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, autorizando o uso de métodos de tortura só comparáveis àqueles utilizados durante a Ditadura Militar, como forma de pressão para desocupar escolas públicas, soa como um sinal de alarme sobre a escalada do arbítrio.
A imposição do Estado de Sítio – cerco com tropa munida de armas de grosso calibre, corte de energia, de água, de gás e emissão sonora para impedir o sono – até aqui circunscrito a escolas ocupadas por adolescentes que se manifestam em defesa da educação pública e gratuita para todos não é precisamente uma característica de um Estado Democrático de Direito.
E quando ouvimos, em Audiência Pública na Câmara Legislativa do Distrito Federal, a secretária de Segurança Pública e Paz Social declarar que tais operações não passaram por ela, somos levados a concluir que estamos diante de uma inversão de papéis, onde a força repressiva do Estado subordina o Poder Civil – eleito pelos cidadãos – que institucionalmente deveria subordiná-la.
Está se desenhando no país um horizonte sombrio para os pobres, para os trabalhadores, para os estudantes, para os aposentados, para os direitos conquistados nas últimas décadas, a partir dos governos dos presidentes Lula e Dilma Rousseff. Já se manifestam setores reacionários contra a realização de audiências públicas para debater a escalada repressiva. Para calar o parlamento. Setores que sonham com o Parlamento fechado ou castrado de suas funções de caixa de ressonância que tem o dever de ecoar os grandes problemas do país.
Aqueles que, nos últimos meses, embalados pelo discurso do normal funcionamento das instituições, defenderam a farsa do impeachment da presidenta eleita e mergulharam na aventura do golpe, se vêem agora diante do passo acelerado da demolição das garantias constitucionais por um governo ilegítimo que se utiliza da capa da toga para encobrir o arbítrio e fazer do país uma terra de ninguém, um Estado onde o que prevalece é apenas o exercício da força.
Quando se rompe o laço de credibilidade entre o cidadão comum e o aparelho judiciário – e ele já não tem a quem recorrer – instala-se a barbárie. O quotidiano dos brasileiros vai se convertendo num pesadelo de violência, de ameaças, de insegurança. A república dos delatores se converteu rapidamente na república do medo.
O Estado Policial traz em si a vocação totalitária. É inerente a ele. Há tanto tempo ele se volta contra os mais vulneráveis que se incorporou à paisagem social do país ante a indiferença dos nossos olhos: os jovens negros, as mulheres, os LGBTs, os pobres da periferia, os que não tem sobrenome. Hoje, ele se volta contra os segmentos organizados dos movimentos de estudantes e trabalhadores. Não podemos nos permitir ilusões, ele não se detém pela força dos argumentos porque utiliza diariamente o argumento da força. Não se detém como não se deteve o processo que o precedeu. A única barreira efetiva capaz de resistir a processos semelhantes é a mobilização popular, como ocorreu na campanha das Diretas Já! , quando o povo nas ruas abriu caminho para um novo pacto constitucional materializado na Constituição de 88.
As lutas dos defensores da democracia contra o Estado Policial a serviço da plutocracia nacional e internacional está apenas começando. E vai nos impor desafios inéditos para alcançar a consciência das novas gerações de cidadãos que cresceram num país aberto e generoso, que se preparava para combater a chaga mais profunda que carregamos ao longo de quinhentos anos de história: a chaga da desigualdade social.
(Pedro Tierra é poeta e presidente do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo; foto: Paulo Pinto/AGPT)
A cada dia que passa, os fatos mostram que os golpistas não estão entendendo nada. Cadê os investimentos? Cadê a pacificação brasileira? Onde está o crescimento econômico? Os golpistas esqueceram que conversa fiada ilude eleitor, mas não serve pra conduzir uma nação.O mico tá virando chipanzé. É melhor correr enquanto é tempo.
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