Os donos de jornais e revistas da capital paulista, num repente de generosidade, ofereceram, em vez dos 3% propostos até então, uma nova proposta salarial aos jornalistas, na última rodada de negociações: reajuste de 9,82% para salários até R$ 2.719; de 7% para salários entre R$ 2.719,01 e R$ 4.350; de 6% entre R$ 4.350,01 e R$ 13.472; e, acima desse valor, um fixo de R$ 808,32.
Além de reajuste escalonado, os patrões propuseram pagamento parcelado em três vezes, assim como o pagamento do valor fixo, sendo o primeiro a partir da assinatura do acordo e retroativo a junho, o segundo em janeiro e o terceiro em abril de 2017, às vésperas da próxima data-base. A proposta patronal foi rejeitada pela direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo.
O sindicato propôs apresentar uma proposta alternativa em nova rodada, depois de consultar a categoria em visitas às redações na próxima semana, entre segunda (10) e sexta (14), e em assembleia no dia 17 de outubro, na sede da entidade, no centro paulistano.
Outro problema que levou a bancada dos jornalistas a não aceitar a proposta é que os empresários querem que o reajuste para reposição da inflação incida somente sobre os salários, sem contemplar outras cláusulas econômicas como os vales refeição e alimentação e o auxílio creche.
Na mesa de negociação, os sindicalistas reforçaram que continuam defendendo a reposição da inflação em toda a pauta econômica e recordaram aos patrões que o reajuste escalonado por faixa salarial já levou ao achatamento da remuneração em convenções coletivas de anos anteriores.
Os empresários reconheceram que a proposta “está aquém das expectativas da categoria”, mas seguem na toada da crise como desculpa para não atender a pauta dos jornalistas, afirmando que estão “fazendo esforço em apostar que lá na frente o cenário vai melhorar”.
Em praticamente todo país, as negociações coletivas de salários dos jornalistas estão emperradas pela deliberada ação dos empresários do setor de não negociar nem mesmo a reposição da inflação. Ainda mais grave é a posição do patronato de não aceitar que os impasses sejam resolvidos pela Justiça do Trabalho.
Dos 31 Sindicatos de Jornalistas filiados à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) apenas oito conseguiram fechar suas convenções e/ou acordos coletivos. Em muitos casos, as negociações arrastam-se desde o início do ano. E em pelo menos um Estado, Alagoas, os patrões recorreram ao Tribunal Superior do Trabalho (TST) para reverter a decisão do TRT, que julgou o dissídio coletivo e determinou a reposição salarial pela inflação do período (9,83%).
Para a Fenaj e os sindicatos de Jornalistas, está evidente que houve um conluio das empresas do setor para intensificar o arrocho salarial imposto à categoria. Os prepostos das empresas foram para as negociações coletivas decididos a não aceitar a reposição salarial anual, reconhecida como um direito dos trabalhadores pela Justiça do Trabalho.
As empresas também se negam a discutir questões sem impacto econômico, como a implementação da Cláusula de Consciência – para garantir ao jornalista o direito o exercício ético da profissão – e a adoção de medidas para garantir a segurança dos jornalistas quando expostos a situações de risco.
A categoria dos jornalistas é uma das que mais sofreram nos últimos anos com demissões em massa, sobrejornadas, precarização das relações de trabalho, desvalorização profissional e baixos salários. Já não há como se promover mais arrocho sem aviltar as condições de vida dos jornalistas.
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