Brasil Novo se isola do mundo


No esforço de promover cortes de gastos, para cumprir o ajuste fiscal, o Brasil vai suspender sua participação em diversos órgãos internacionais. Para tanto, já solicitou ao Congresso a liberação de R$ 3 bilhões para saldar dívidas com diversos desses órgãos no exterior.

A informação foi prestada pelo ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, em Washington. Segundo ele, também foi incluída uma provisão de R$ 2,5 bilhões no Orçamento de 2017 para o pagamento desses compromissos. A ideia inicial é que o país deixe de integrar seis organismos internacionais. Devido a contribuições não pagas, o Brasil já corria o risco de perder o direito a voto em algumas instituições.


A saída do país de alguns desses órgãos, por outro lado, está sendo vista com apreensão por alguns especialistas, que apontam uma mudança de rumo significativa na condução da diplomacia brasileira. 

Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ),diz que essa é uma má notícia, que vem em um contexto mais amplo de uma série de cortes de verbas para o orçamento da política externa que resultou inclusive numa greve do Itamaraty, algo muito raro na história brasileira. 

 "Cada uma dessas organizações, mesmo aquelas mais especializadas, exercem alguma função que é interessante para o Brasil, uma cooperação que dê benefícios para o comércio exterior ou para uma área importante de política pública. Mesmo essas organizações que não ocupam as manchetes desempenham algum papel para o Brasil. O custo de participar não é caro, se a gente leva em conta o tamanho da economia e do orçamento público brasileiros." 

Segundo o especialista, essa é uma questão de estabelecer prioridades, e existem outras questões despesas que podem ser reduzidas para não se prejuidicar a inserção internacional do Brasil.

"Vejo dois grandes riscos para a política externa brasileira nesse momento. Um é o custo político da recesão econômica, o custo para as relações do país com outras nações com os cortes que estão sendo feitos no orçamento federal, como fechamento de embaixadas, a retirada do Brasil de organismos internacionais. Esse é um risco grandes, mas que de certa maneira a gente compreende em função da crise econômica. Além disso, vejo um risco político que vem de determinadas opções que estão sendo tomadas pelo ministro das Relações Exteriores e pelo governo como um todo. E o que mais me preocupa tem sido as relações do Brasil com os países latino-americanos." 

Santoro afirma que a presença diplomática do país no exterior tem sido uma política de Estado do Brasil, algo que tem transcendido os vários governos brasileiros a integração da América Latina pelo menos desde a redemocratização. 

"Mesmo se olharmos o presidente José Sarney, que absolutamente não teve nada de progressista, ele teve uma política externa preocupada com a integração, em aproximar o Brasil da Argentina, lançar as bases do Mercosul. O que estamos vendo agora é uma ruptura bastante grande. Olhando o perfil político do ministro Serra, é muito diferente daquilo que o ex-presidente Fernando Henrique tinha feito durante seu governo, sobretudo no segundo mandato, que teve um caráter forte de intregação su- americana", diz Santoro. 

Para ele, em nome de se marcar um afastamento do atual governo com o da presidente Dilma, muitas vezes as autoridades brasileiras estão empurrando para uma política externa que fere princípios muito importantes da nossa história diplomática. (Sputnik Brasil

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