Depois de um bom tempo navegando por águas calmas, o pessoal que fazia o caderno de economia do Estadão, lá nos distantes anos 90 do século passado, foi avisado que haveria troca na tripulação: sangue novo iria rejuvenescer o produto.
E ele veio, trazendo consigo a inevitável carga de ansiedade que as mudanças geram, assim como os conflitos, os choques de personalidade, as fofocas, os ciúmes, todas as tensões existentes num grupo heterogêneo de pessoas - uma redação de jornal é um micromundo.
Os dias se passaram, as coisas foram se ajustando, o trabalho, com sua nova dinâmica foi entrando nos eixos.
Na época, eu fazia parte da diretoria do sindicato dos jornalistas, junto com um amigo repórter da editoria.
Logo depois que assumimos o cargo, o diretor de redação, havia pouco na função, em substituição àquele que hoje se dedica à saudável tarefa de difamar, diariamente, em seu trabalho, a esquerda em geral e o PT, principalmente suas principais lideranças, em particular, me chamou para uma conversa.
Foi um papo meio esquizofrênico, sem sentido nenhum, mas eu entendi perfeitamente do que se tratava: ele temia que meu amigo e eu, diretores do sindicato, promovêssemos algum tipo de "agitação" entre os colegas.
Não me lembro quanto tempo se passou quando, numa tarde ao chegar na redação e antes mesmo de abrir o computador, a nova coordenadora de economia [cargo acima do editor, que existia para organizar e integrar as editorias do Estadão e do Jornal da Tarde], veio conversar comigo.
- Fui falar com o ... [diretor de redação] para dar um aumento para você e o ... [meu amigo repórter]. Disse que vocês merecem, ganham menos que outros na mesma função, que estão ralando, fazendo um bom trabalho. Aí ele me perguntou: "Mas eles não são do sindicato?" Eu respondi que não fazia a menor ideia e que isso não tinha a menor importância, como não teria se vocês fossem marcianos, ou qualquer outra coisa, e o que importava era que vocês mereciam um aumento.
Agradeci, fiquei contente por ver que gostavam do meu trabalho e, principalmente, porque tinha uma chefe com uma das qualidades que mais admiro no ser humano, o senso de Justiça.
Mas o aumento não veio. (Carlos Motta)
Acho que a chefe era a Nair Suzuki.
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