O personagem dessas duas historinhas é o mesmo, um rapaz que teve uma carreira meteórica na "grande" imprensa brasileira.
Na ocasião, ocupava um alto cargo de chefia no Estadão, transitava com extrema facilidade por várias áreas, escrevia sobre assuntos tão diversos como literatura, cinema e macroeconomia, sem esquecer, claro, do futebol.
Entendia de tudo, ou dava essa impressão.
Era um apaixonado fã do atacante Ronaldo.
Participou, com alguns textos, da cobertura da Copa do Mundo de 2002, sem sair da redação: na última hora desistiu de ir com a turma para a Coreia/Japão.
Certo dia, depois de uma vitória da seleção contra não me lembro quem, a edição do caderno de esportes já fechada, o pessoal se preparando para as mudanças do segundo clichê, me avisaram:
- Você leu o texto sobre as notas dos jogadores?
- Li, fui eu que desci [liberei para a gráfica] a matéria. Por quê?
- É que mudaram a nota do Ronaldo. O .... [repórter que cobriu o jogo] deu 7, mudaram para 8 depois que a matéria desceu.
Fui verificar.
Era verdade.
E o sistema editorial, implacável dedo-duro, apontava o nome de quem tinha feito a última alteração no texto...
Algum tempo depois, Copa do Mundo terminada, Brasil campeão, tudo estava mais calmo no caderno de esportes.
O veterano setorista de automobilismo vem conversar comigo:
- O ... me deu o livro que escreveu sobre o Senna. Li e achei uns 10 erros factuais nele. Estou em dúvida se devo avisá-lo sobre isso, sabe, para que possa corrigir tudo numa segunda edição. O que você acha?
- Acho que ele não vai ficar chateado se você fizer isso - respondi.
- Então eu vou falar com ele.
No dia seguinte, curioso, perguntei sobre como o nosso biógrafo tinha reagido.
- Levei o livro, expliquei que tinha achado vários erros e passei as informações corretas. Ele me agradeceu e disse que não tinha importância. Vai mesmo ficar tudo errado.
Daquele momento em diante a minha convicção de que um bom jornalista anda junto com um bom caráter - e o contrário também se aplica - ficou ainda mais fortalecida.
(Carlos Motta)
Na ocasião, ocupava um alto cargo de chefia no Estadão, transitava com extrema facilidade por várias áreas, escrevia sobre assuntos tão diversos como literatura, cinema e macroeconomia, sem esquecer, claro, do futebol.
Entendia de tudo, ou dava essa impressão.
Era um apaixonado fã do atacante Ronaldo.
Participou, com alguns textos, da cobertura da Copa do Mundo de 2002, sem sair da redação: na última hora desistiu de ir com a turma para a Coreia/Japão.
Certo dia, depois de uma vitória da seleção contra não me lembro quem, a edição do caderno de esportes já fechada, o pessoal se preparando para as mudanças do segundo clichê, me avisaram:
- Você leu o texto sobre as notas dos jogadores?
- Li, fui eu que desci [liberei para a gráfica] a matéria. Por quê?
- É que mudaram a nota do Ronaldo. O .... [repórter que cobriu o jogo] deu 7, mudaram para 8 depois que a matéria desceu.
Fui verificar.
Era verdade.
E o sistema editorial, implacável dedo-duro, apontava o nome de quem tinha feito a última alteração no texto...
Algum tempo depois, Copa do Mundo terminada, Brasil campeão, tudo estava mais calmo no caderno de esportes.
O veterano setorista de automobilismo vem conversar comigo:
- O ... me deu o livro que escreveu sobre o Senna. Li e achei uns 10 erros factuais nele. Estou em dúvida se devo avisá-lo sobre isso, sabe, para que possa corrigir tudo numa segunda edição. O que você acha?
- Acho que ele não vai ficar chateado se você fizer isso - respondi.
- Então eu vou falar com ele.
No dia seguinte, curioso, perguntei sobre como o nosso biógrafo tinha reagido.
- Levei o livro, expliquei que tinha achado vários erros e passei as informações corretas. Ele me agradeceu e disse que não tinha importância. Vai mesmo ficar tudo errado.
Daquele momento em diante a minha convicção de que um bom jornalista anda junto com um bom caráter - e o contrário também se aplica - ficou ainda mais fortalecida.
(Carlos Motta)
Gostaria de saber quem é o vagabundo!
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