Pouco mais de um mês como editor de esportes do Estadão, sou chamado pelo editor-chefe, que nem usou o tradicional nariz de cera [parágrafo introdutório de um texto noticioso que não traz nenhuma informação, geralmente prolixo] para entrar no assunto:
- Você vai ter de cortar R$ ... mil de sua editoria. Tem três dias para me passar os nomes dos demitidos.
Gelei. Argumentei. Esperneei.
Nada funcionou.
Conhecia pouco o pessoal da editoria. Havia até alguns que estavam em férias.
Tentei achar algum critério para os cortes, já que, ao meu juízo, ninguém merecia ser demitido.
Por fim, escolhi quatro nomes, de jovens, solteiros, gente com garra e competência suficientes para arranjar outro emprego rapidamente.
Antes de entregar a lista ao editor-chefe, pedi que ele me cedesse uma sala para que pudesse conversar com cada um dos demitidos.
- Bobagem, os outros editores estão avisando aí na redação, mesmo - disse.
E encerrou o assunto.
Passei os nomes a ele.
- Epa, esses três tudo bem, mas a ..., não. Ela é superlegal, gostosa, uma gata. Vou arrumar um jeito de ela ficar.
E arranjou: a moça foi transferida do caderno de esportes para outra editoria.
Tinha talento de sobra.
(Carlos Motta)
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